O que eu vi na horta do senhor Irineu.

Ontem, eu, meu pai e meu avô, fomos à horta do senhor Irineu.

Era de tardezinha e o sol já estava se escondendo.

Logo que chegamos fomos recebidos por ele, um homem de cabelos brancos que tinha um sorriso muito acolhedor. Mesmo assim, tratei de esconder-me no meio das pernas do meu avô, porque fiquei com medo da ferramenta que ele trazia nas mãos. Depois papai explicou-me que se tratava de uma enxada, e que era usada para capinar e mexer a terra para semear.

Todas as tardes ele colhe as verduras e os legumes que já estão prontos para serem colhidos. Elas estavam em um cesto de palha, coberto por um saco de estopa molhado, meu avô disse que era para que as verduras ficassem fresquinhas, porque o sol estava muito quente durante o dia.

O senhor Irineu é um homem muito esperto, porque ele separou tudo direitinho. Amarrou as alfaces com as alfaces, os maços de almeirão com o almeirão, as couves estavam junto com os maços de salsinhas. Meu pai disse que as alfaces e as chicórias, são colhidas de uma só vez cortando-se o pé pela raiz, mas existem verduras que se retiram somente as folhas graúdas, e vão nascendo outras, como é o caso da couve, do almeirão, da salsinha e de outras hortaliças...

As cenouras graúdas foram separadas com as graúdas e as cenouras miúdas com as miúdas. Escutei o senhor Irineu falar para meu avô que é desta forma que os fregueses dele gostam de comprar. Percebi que ele também é um bom vendedor de verduras, porque também se preocupa em agradar as pessoas. Só acho que ele deveria guardar a enxada para falar com elas.

Os tomates vermelhinhos foram separados do pimentão, da abobrinha e do pepino, cada um no seu saquinho.

Passado algum tempo ele guardou a enxada e respirei mais aliviado, então ele pegou o regador, encheu-o de água e molhou todos os canteiros um a um, com muita atenção. Ele ia molhando de cima para baixo e de baixo para cima, até eles ficarem bem molhadinhos. As plantas gostaram, ficaram mais verdinhas e cheias de gotinhas de água. Enquanto regava e assoviava, olhava-me e sorria, e eu escondia-me atrás do meu avô, não que eu estivesse com medo dele, mas eu estava com muita vergonha. Escutei o senhor Irineu falar para meu avô:

- Crianças são assim mesmo, depois que elas pegam intimidade com a gente, correm e sapateiam por cima dos canteiros. Mas eu não ia fazer isso, porque meu pai já havia me explicado que devemos respeitar as pessoas, principalmente as mais velhas. Mas eu acredito que existam crianças que fazem isto, porque ele ficou muito triste enquanto falava.

O senhor Irineu não reclamou do trabalho pesado de cuidar da horta e da terra, nem do suor que lhe escorria pela testa. Eu fiquei só observando...

Comparei-me a ele que era um homem bastante idoso e cansado mesmo assim, ele acordava cedo todos os dias para cuidar do trabalho e vender as verduras e os legumes.

Fiquei com vergonha de viver reclamando e de voltar da escola sempre cansado e desanimado.

Ainda sou criança, mas quando crescer gostaria de ser igual ao senhor Irineu. Seja qual for o meu trabalho, farei com carinho e determinação, assim as crianças do futuro também sentirão orgulho de mim.

SILVIA TREVISANI
Enviado por SILVIA TREVISANI em 06/04/2009
Reeditado em 07/04/2009
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