Bicho Papão

Corre uma história lá pelos idos de 1997 de uma criança que encontrou o Bicho Papão. O susto foi tão grande que nem o nome dele ela perguntou. Também Bicho papão, não tem nome. Isso basta. Ela conta que não adianta olhar de baixo da cama e muito menos dentro do guarda-roupa. Ela apenas fechou os olhos e fingiu sonhar, assim como quem dorme com o olho aberto. E quando menos esperar lá esta ele, enorme e muito gordo. Não, ele não é feio, nem bonito. Só diferente. Tem um olho no lugar da barriga e na cabeça três orelhas (mais tarde ela descobriu o porquê das três orelhas). Respira alto, como o sussurar de uma tempestade, e tem um hálito quente e fedido. Suas mãos são calejadas, e não é de pegar no batente, segundo o próprio Bicho Papão, é que ele carrega o medo em suas mãos, mas dentro dele há muito amor. Criatura de outro mundo também tem sentimento, chora e sorri, e como nós, sentem medo de coisas diferentes. Na verdade eles se perdem toda noite, e quase sempre param no quarto de uma criança. Vou contar um segredo: ele tem medo de escuro! Sim, jamais vai ao banheiro sozinho, e por falar nisso, são solitários por natureza e só querem nossa amizade.

Não falem em adultos perto dele; os adultos são mentirosos, sempre falam que o bicho papão vem pegar criança mal educada, e que a cuca só chega quando o papai foi na roça, claro que é assim , pois só as crianças veem com os olhos da alma.

Em 1998 ela viu ele de novo, agora sem sustos e nem sobressaltos, pois ela já sabe que bicho papão não gosta é de gente grande, e assim foi mais uma noite sem dormir e brincando de faz de conta.

Affonso Santos
Enviado por Affonso Santos em 21/03/2009
Reeditado em 21/03/2009
Código do texto: T1497631
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