¨Um gatinho e o portão¨
Um gatinho no portão. Uma garotinha solitária. O filhotinho cor de creme, olhinhos azuis e nariz rosinha, mia chamando por proteção vinda de um bom coração. A criança ouve seu chamado quase que instantaneamente. Ela estava sozinha procurando com o que brincar no quintal. Andando pelas árvores de folhas cadentes de pezinhos descalços, cabelo solto com cachinhos abaixo dos ombrinhos usava um vestidinho com estampas de bichinhos típico de criança, ela começou a seguir o som do miadinho.
Aflita por encontrar o que era. Passou pelo canto do pomar e avistou o portão sombrio que tanto evitava por achar que se tratava de um portal mal assombrado de onde sairia todos os tipos de monstros. O som se aproximava cada vez mais...Até que a menina se encontrava bem em frente ao tal portão. A essa altura os miadinhos haviam diminuído ou parado mesmo. O coração da criança batia agora descompassado num misto de excitação, medo e ansiedade. Encostou sua mãozinha hesitante no portão -teria coragem de abri-lo? Fez um acordo consigo mesma, se ouvisse mais uma vez o som de um filhote, empurraria aquela estrutura de madeira com todas suas forças.
Durante um minuto (o mais longo de sua vidinha infantil) o silêncio se fez, seu coração apertando no peitinho. De repente! O miado (mais um gemidinho do que um miado) foi ouvido! Superando todos seus medos infantis a garotinha destrancou aquele portão pesado e o empurrou. O capim estava muito alto e essa foi a visão que a menina teve de imediato. Ainda com o peito pulando foi ficando emocionada e chorou quando percebeu uma cabecinha meio amarelada surgindo bem perto de seus pés.
Pequenos olhinhos azuis encontraram um par de olhinhos castanhos claros. Nesse momento a menininha esqueceu que tinha medo do outro lado do portão. Esqueceu seus monstros e amou aquela criaturinha. Tão frágil como ela mesma.
O animal a escolhera. Ele foi enviado do destino para fazer companhia a uma criança solitária. E a criança, com seu coração repleto de amor, já amava o animal desde quando ouviu o seu chamado pela primeira vez. Completaram-se. Foram feitos um para o outro. A partir daí, foram felizes por toda vida e espalharam o amor puro e verdadeiro por muitos lugares e por várias gerações.
O amor sem pedir nada em troca.
O amor que, quanto mais se doa, mais se tem.
O amor que preenche lacunas e que faz a vida ter realmente sentido.
Esqueçam o medo e empurrem o portão.
Escondido no meio do capim alto você vai encontrar seu gatinho também