O CANTO DOS PÁSSAROS

Zeca era um homem que morava em um sítio distante da cidade grande. Muito humilde e de pouco estudo; era turrão, mais no fundo com um coração enorme.

No sítio, como de costume, Zeca criava porcos, galinhas, vacas e cavalos. E também tinha uma enorme criação de pássaros.

Zeca pegava os pássaros que estavam soltos na natureza e colocava-os dentro de uma enorme gaiola que construiu nos fundos de sua pequena casinha.

Ele adorava o canto dos pássaros e os achava muito lindo, por isso os pegava para ficar sempre ali, perto dele.

Mas Zeca andava muito triste porque tanto que queria que seus pássaros cantassem e nem um único pio se ouvia em sua enorme gaiola. Era só silêncio. Os pássaros mal se moviam.

- Puxa, gosto tanto destes pássaros! Converso com eles, dou água, comida e nada, será que estão doentes? – resmungava Zeca olhando para o silêncio de sua gaiola.

Para seu espanto, certa manhã Zeca escutou os pássaros conversando enquanto ele trocava a água e limpava a gaiola.

- Esse cara é louco? – perguntou um passarinho.

- Louco? Deve de ser é muito louco! – respondeu o outro.

- E o pior acha que a gente está doente. Doente é ele! – foi logo remendando outro passarinho.

Zeca ficou muito assustado, mas resolveu ficar em silencio e fazer que não percebia nada do que estava acontecendo. E os pássaros continuaram:

- Pois é, como é que alguém pode dizer que gosta da gente e deixar a gente preso aqui, não?!

- Que beleza pode esperar de nós? Como pode querer que a gente cante depois de ter roubado nossa liberdade. – completou um sabia muito triste.

- Hum, isso não é nada, e eu que vinha cantar para ele todas as manhãs bem pertinho da janela para ele acordar. – protestou revoltado um canário.

- É muito estranho mesmo o amor deste homem, chega a dar pena. – encerrou o assunto, um sábio Colibri.

Zeca ficou muito intrigado, não conseguia entender porque os pássaros estavam dizendo aquelas coisas a seu respeito, afinal, ele fizera uma gaiola enorme, linda, cuidava dela todos os dias, limpava as sujeiras, trocava a água, colocava uma abundância de alpistes, construía até pequenos ninhos.

No final da tarde Zeca recebeu a visita de seu sobrinho que morava na cidade grande. Resolveu então contar a Júlio o que estava acontecendo. Ele era um menino muito inteligente, fazia faculdade, com certeza saberia como ajudar Zeca.

- Tio, mais o senhor não pode mesmo prender os pássaros, especialmente aqueles que já estavam livres na natureza! – foi logo falando o sobrinho Júlio.

- Não posso Júlio? Mas por quê? Eu cuido tão bem deles! – perguntou inquieto Zeca.

Júlio então contou para o Tio tudo sobre a natureza, o mal que os homens fazem quando interferem no meio ambiente e no habitat natural dos animais. Falou sobre a devastação das florestas, sobre as queimadas, sobre a extinção de inúmeras espécies de animas e sobre todo o mal que isso causa a nós mesmos, humanos.

Contou sobre o absurdo comércio e tráfico ilegal de animais silvestres; a lavagem de dinheiro e tudo de ruim que os homens são capazes de fazer.

Zeca ouviu tudo com muita atenção e a cada informação nova que recebia de seu sobrinho se sentia mais envergonhado e mais indignado com os homens.

Quando o sobrinho terminou de falar Zeca caiu no pranto, chorava como se fosse uma criança.

- Mais Júlio, como o homem pode fazer tanto mal à natureza, aos animais se é daí que retiramos toda nossa comida, nossa sobrevivência?

- Pois é Tio, para você ver como o homem destrói a própria vida e nem se dá conta. – explicou Júlio.

- E como eu pude fazer isso com os pássaros Júlio? Será que eles vão me perdoar?

Júlio vendo como seu Tio sofria pensando no mal que ingenuinamente causou aos pássaros tentou confortá-lo dizendo:

- Tio, o importante é a gente entender o mal de nossos atos e tentarmos melhorar, reverter a situação, entende? Nunca é tarde para tentarmos salvar a natureza e recompensar os males que já causamos. O que não podemos é continuarmos destruindo e deixarmos esta triste herança de prejuízos e destruição para nossos filhos, netos, bisnetos.

Zeca escutava tudo com muita atenção e o sobrinho completou:

- Tio, claro que os pássaros vão perdoá-los, basta que você faça a coisa certa agora e daqui para frente viva de maneira mais consciente, fazendo a coisa certa, entende?

Zeca fez que sim com a cabeça:

- Entendi sim Júlio e pode ter certeza que é isso o que vou fazer. Mas me diga mais uma coisa Júlio, e vai adiantar de alguma coisa eu fazer isso sozinho enquanto os outros homens continuam destruindo?

Júlio deu um longo suspiro antes de responder, ou pelo menos, tentar responder:

- Ah tio, pode ter certeza que irá adiantar sim. Na verdade todos se perguntam isso. Eu sei que é certo que ninguém sozinho pode mudar o mundo. Mas quando fazemos nossa parte e mudamos o nosso pequeno mundo nunca estamos sozinhos. Porque outras pessoas, por poucas que seja ou pareçam ser poucas, estarão fazendo o mesmo, e este pouco de cada um, fará muita diferença, porque se tornará cada dia mais e maior, entende?

- E as pessoas podem imitar a gente né Júlio? Não é isso que acontece com este tal de exemplo que você diz? – perguntou muito humilde Zeca.

- Isso mesmo Tio, nosso exemplo ensinará a outras pessoas, que farão o mesmo e que também ensinarão as outras e assim criamos uma grande corrente de amor pela natureza e consciência ambiental. O importa é começar e que seja agora, neste instante.

E assim, Zeca e Júlio conversaram madrugada adentro.

Ao primeiro raiar do sol, Zeca muito animado foi até sua gaiola de pássaros. Ele queria praticar logo todo o conhecimento que tinha adquirido na conversa com seu sobrinho. Queria colocar em prática a tal da consciência ambiental que seu sobrinho disse que ele estava ganhando, achava aquilo tudo muito bonito. Mesmo sem entender direito as palavras bonitas que seu sobrinho falava de uma cosa tinha certeza, o importante é aprender a cuidar da natureza.

Seu coração ficou muito apertadinho, porque sentiria falta de seus passarinhos, mas sabia que era a coisa certa fazer e não poderia adiar aquilo mais um único dia que fosse. Entre lágrimas ele disse aos calados passarinhos:

- Meus amigos, não sei se vocês me entendem, mas eu queria muito me desculpar por ter roubado de vocês a liberdade e o direito de viver. Vocês têm razão, devo ser mesmo muito louco!

Os passarinhos começaram a se aproximar das grades da gaiola e a olhar bem interessados para aquele homem como quem dizia:

- Sim, nos estamos entendendo.

- Eu os admirava tanto e amava tanto vocês que acreditei que poderia mantê-los aqui, pertinho de mim para sempre. Quanta bobagem, achei que assim estaria protegendo vocês!

Zeca então abriu as portas a gaiola e terminou dizendo:

- Espero que vocês me perdoem e quero daqui para frente admirar toda a beleza de vocês soltos, livres, lá fora, na natureza que é verdadeiramente a casa de vocês e onde vocês estarão realmente protegidos.

Os passarinhos estavam muito emocionados com o arrependimento daquele humilde homem. Foram aos poucos saindo da gaiola e aquecendo as asinhas.

Tomaram o céu e encheram o sítio de brilho, alegria e magia de vida.

Zeca observava tudo muito orgulhoso de si mesmo, porque agora sim, estava fazendo a coisa certa.

Em sinal de gratidão, os pássaros que agora eram amigos de verdade daquele home maluco visitavam Zeca todos os dias no sítio ao entardecer.

E juntos cantavam e viviam assim, alegrando a vida uns dos outros.

Livres. Cada um no seu habitat, na sua casa.

E viva nossa natureza, viva com vida!