O SONHO
Era o início do outono, uma brisa fresca percorria a floresta e para se aquecer os bichos se esticavam ao sol na relva macia ou até mesmo numa pedra na beira do rio, como gostava de fazer o jacaré do papo amarelo, que estava olhando de um lado pro outro como se estivesse procurando por alguém, e o tamanduá pergunta para ele:
— O que esta procurando?
— A jaguatirica.
O tamanduá não entendeu, o porque que o jacaré do papo amarelo estranhava a falta dela e disse:
— Nós passamos por ela mais cedo.
— E você não reparou como estava?
— Em pé e com um ar de satisfação na cara.
— Esse é o problema!
— Desde quando alguém que estampa satisfação pode ser problema?
A pergunta ecoou pela floresta. E os outros animais se aproximaram para saber já que todos a viram bem. Ai o lobo pergunta para o jacaré do papo amarelo:
— Porque é problema estar bem?
— Não é nada disso! É o que ela está fazendo, é o que me preocupa.
— Ela não está fazendo nada! Afirmou o tamanduá olhando para o lobo.
— Não vejo motivo algum para preocupação, falou a ariranha.
— Vocês não entenderam, o que ela está fazendo é olhando fixo para a montanha, e isso é o que me preocupa, falou o jacaré do papo amarelo.
— Ela só está encantada com seu tamanho e beleza, falou o lobo.
— Ela é jovem demais, e com certeza com aquela expressão na cara, pode estar querendo fazer alguma besteira, e se dar mal, falou o jacaré do papo amarelo.
— Será que ela esta querendo alcançar as nuvens? Falou o lobo com um ar de riso.
Ai o tatu se aproxima do grupo e diz:
— Eu sei como resolver esse impasse.
— Como? Perguntaram todos quase ao mesmo tempo.
— Sigam-me! Os bons os curiosos e os animados, disse o tatu brincando, e todos:
— Legal, vamos lá!
O jacaré apesar de ter dado o alerta, se acomoda na pedra e diz:
— Estou muito gelado, tenho que me aquecer para dar conta dessa caminhada.
Ouviram e concordaram com ele, pois sabiam que a água do rio estava muito fria, e os jacarés não eram como eles, que tinham sangue quente, e não precisavam tanto do sol para se aquecer, e partiram pela floresta. Ao passarem perto de uns arbustos o tatu se adianta e grita.
Aqui esta a solução. E aponta para o elefante que estava se coçando em uma pedra, e pergunta para o grupo:
— O que vocês querem?
— Saber se você sabe o que é que está acontecendo com a jaguatirica. Disse o lobo guará.
O elefante levanta suas orelhas e balança sua tromba com um jeitão curioso e fala:
— Eu sei o que ele está fazendo, e vocês também.
— Se nós soubéssemos, não viríamos aqui. Falou o tamanduá.
— É claro que sabem, ou nunca sonharam em alcançar alguma coisa grandiosa?
E todos balançaram a cabeça afirmando que sim.
— Pois então relaxem!
— Mas o jacaré falou tão serio que deixou todo mundo preocupado, falou a ariranha.
O elefante olha de lado e dá uma piscadela amigável e diz:
— Ele só esta sonhando.
— Quando parar pode acontecer um desastre, falou o lobo.
— Parem com isso! Para encerrar esse assunto vamos lá.
Disse o elefante se abaixando para tatu subir em sua cabeça. E partem em disparada, com o tatu se segurando como podia, e quando chegam, encontram a jaguatirica em prantos, e o lobo se adianta e lhe pergunta:
— O que está acontecendo?
— Eu sou pequena, fraca e muito burra por querer coisas que não alcanço.
O elefante ouve dando um passo em sua direção se abaixa e olha bem serio para ele e diz:
— O que você queria fazer?
— O que não dou conta, com certeza.
E começou a chorar.
— Eu gostaria de voar, mas não posso e nem por isso estou chorando.
— Eu queria subir a montanha.
— Mas você é muito pequeno, seria muito perigoso, pode acontecer algum acidente.
— Eu queria ver tudo lá de cima.
E todos os animais se aproximam fazendo um círculo em volta da ariranha, que choramingava bem baixinho. O elefante pergunta ao seu amiguinho:
— O que você gostaria de ver?
— Tudo! As árvores, a floresta, os rios e até mesmo o jacaré lá no rio.
— E o que ele estaria fazendo.
— Com essa água gelada, com certeza está no sol se aquecendo e com certeza deitada na pedra.
— Acertou! E as árvores, como são por cima?
— Um tapete verde imenso, com muitos pássaros voando sobre ele.
— E a montanha como deve ser.
— Com muito vento, ar fresco e uma vista fantástica até o horizonte.
— Acertou de novo! Existem duas maneiras de você subir a montanha.
— A única forma que eu conheço é escalando por ela ate chegar no cume.
E todos os animais se aproximam para ouvir o elefante falar:
— Essa é uma delas, mas na hora certa e com segurança é possível sim, mas agora para você é muito perigoso.
— Mas eu queria ver tudo até a linha do horizonte.
— Tem hora para tudo! Concorda comigo, para dormir acordar comer e imaginar.
— Eu imagino a qualquer hora.
E todos:
— Nós também!
E o elefante:
— Pois então você já subiu a montanha! E da maneira mais segura.
— Como?
— Imaginando.
— Mas não é a mesma coisa!
— Olhe para cima e veja o céu, as estrelas e a lua, elas estão ali o tempo todo, não estão?
— Menos de dia, respondeu a jaguatirica.
— Ai é que você se engana, elas permanecem ali e nós só a vemos quando o sol, que brilha milhões de vezes mais, se põe e assim podemos apreciar toda a sua beleza na escuridão da noite.
— O que você quer dizer com isso? Perguntou a jaguatirica.
E todos praticamente em conjunto gritaram:
— Tem hora para tudo! É só aguardar, você vai crescer e ficar forte.
E o elefante:
— E se alguma coisa te acontecer e você não puder, lembre-se que é sempre bom imaginar, nos leva a lugares fantásticos, e burro, fraco e pequeno é aquele que não ousa nem sonhar, em alcançar alguma coisa, e isso com certeza você não é.
E a jaguatirica olhou bem seria para a montanha e gritou:
— Me aguarde! Um dia vou estar no seu cume.
E todos:
— Com certeza! Viva, viva, vivaaa...
Cantavam e dançavam. E o elefante se abaixa e estica sua tromba e diz para o tatu:
— Suba meu amigo, você me arranja cada uma, agora eu não me lembro nem o que estava fazendo.
— Nada de importante diante de um problema de um amigo.
E partem orgulhosos a todo galope sacudindo a floresta por onde passavam, a espera de mais uma aventura.
DiMiTRi
1/6/2006 09:32