Betoven, o cãozinho.
Ele chegou à força. Não era desejado pelo dono da casa. Tudo fora armado: Estratégia, telefonemas a base de cochichos e códigos; uma criança dando com as línguas nos dentes; o dono da casa dizendo: não! Uma verdadeira batalha para que ele entrasse e reinasse com tudo que tinha direito.
Certo dia a vontade de conhecê-lo foi mais forte. Aproveitaram uma visita àquela cidade, quando chegaram à casa onde Betoven tinha nascido, toda cautela fora esquecida. A admiração era grande. Cinco filhotes, cada um mais belo do que o outro. Pareciam bolas de lã, cor de mel. Umas fofuras. Todos tinham dono.
A dona da casa empolgada foi logo dizendo: Daqui a um mês já pode levá-lo.
Uma expectativa ficou no ar, pois só depois que tinha falado é que percebeu que o dono da casa continuava sendo um forte oponente.
Todos saíram, e dentro do carro ele foi logo perguntando: _ Que estória é essa de criar um cachorro? Aquilo não é verdade, é?
E a esposa amorosamente disse: É. Aquele pedaço de mel é nosso. Ele ficou em silêncio. Mas logo foi acrescentando, tentando manter uma postura adequada a um dono de casa que lidera e não é liderado: Temos que fazer uma casa para ele dormir! Não quero cachorro dentro de casa!
Todos começaram a rir de alivio. Começaram os preparativos. Contavam-se os dias.
Num dia ensolarado, um casal amigo se dispôs a trazê-lo até sua nova casa.
Veio numa caixinha de sapato, todo enroscadinho. Parecia que não era um animal de verdade.
Chorou muito na primeira noite. Era saudade da mãe. Telefonaram para uma família que tinha criado um cão daquela raça e a dona da casa sugeriu colocar um ursinho de pelúcia para ele dormir abraçado. E foi tiro e queda. Acabou o choro, dormiu a noite toda.
Três meses se passaram, Betoven parece um carneirinho. É obediente, não é briguento, não estranha ninguém e o melhor, gosta de criança, pois esse era o receio do dono da casa. Ele temia que o cachorro fosse agressivo e se assim fosse não poderiam ficar com ele.
Querem saber onde dorme esse cachorrinho? Dentro de casa. Vive no colo do dono da casa e ninguém sabe de quem é o cachorro. Também ninguém sabe responder quem foi mais beneficiado com a chegada do cão. Se a criança que não tinha um irmãozinho e se sentia só; se o dono da casa que vivia se estressando com tudo e agora só vive brincando com o poodlle, que por sinal corresponde com uma fidelidade maravilhosa: onde o dono está ali está o cãozinho; se a dona da casa que está sempre sorrindo por ver o seu cãozinho deitado na cozinha enquanto ela prepara as refeições, ou em outra parte da casa enquanto ela faz suas tarefas diárias.
Ele se sente dividido. Uma hora procura a criança; outra vai para perto do dono; em outro momento vai para junto da dona.
Quem sai lucrando com essa relação entre homem e animal? Ambos. Pois até na Bíblia encontramos uma passagem que diz: o homem justo cuida bem dos seus animais.