CAÇADA À TOA
Tirei, hoje, o dia inteiro
pra vir caçar, como um rei;
deitar pavor na floresta
e guerrear – pá, pei, pei!
Nessa caçada, caipora
nem pererê zombeteiro
não me vão botar quizumba,
que meu corpo tem chaveiro.
Já meu cachorro mateiro
acoa bicho em buraco...
Será peba, tatu, onça,
preá, guaxinim, cassaco?
Um tejuaçu correu
lá por cima do lajedo;
anhambu levanta voo,
caçador morre de medo.
Rei tirano expõe seu trono,
caça da mata sai cedo;
triste do bicho do mato
na mira de quem tem medo.
Quem caça com chumbo alheio
não escolhe boa rês...
Tanto faz paca, cutia,
como um pequeno-burguês.
Tirei, hoje, dia inteiro
pra vir caçar, feito um rei;
e, como é caçada à toa,
lá vai chumbo – pá, pei, pei!
Fort., 03/02/2009.