Jardim de Todo o Mundo

*** Uma fábula dedicada aos meus filhos: Lucca e Anna Luísa.

Era uma vez Blanco um lobinho, bem lobinho mesmo, que passeava pela mata sozinho.

Gostava de correr e corria muito. Era uma brincadeira para ele fugir da mamãe e dos outros lobos da alcatéia.

Andou e correu por muitos lugares da mata sem perceber que já estava muito longe de todos.

Viu-se diante de uma praia.

Nunca antes tinha visto tanta água.

Aquilo intrigou o pequeno lobo que correu até onde chegavam as ondas, esperava que elas chegassem e corria assustado.

Ficou nessa brincadeira um bom tempo até que deixou que a água tocasse uma de suas patas. A água, apesar de fria foi um toque agradável num dia quente.

Provou um golezinho: era salgada!

Nunca tinha provado água salgada antes.

Primeiro veio a sede, procurou por água e encontrou uma flor muito bonita, mas muito bonita mesmo.

Farejou a flor e sentiu um perfume diferente, nunca tinha sentido um perfume tão gostoso assim.

Olhou para a flor, sem saber o que fazer; o cheiro era muito bom, mas não era cheiro de “coisa de comer”...

Sentia sede e fome e a flor estava lá; linda, cheirosa e... parecia que sorria para ele!

Ele ouviu um: - Oi! Cuidado... cheire devagar senão vou ficar toda despetalada!

Blanco ficou assustado com aquela voz, olhou para a flor e disse:

- Eu não sabia que flores falavam...

- E eu nunca tinha ouvido falar de lobinhos falantes!

E os dois riram muito.

- Estou com fome! E sede! – disse Blanco

Não havia ali nada que pudesse matar a fome de Blanco, nem sua sede.

- Como você chegou aqui? – perguntou a flor.

- Estava brincando, correndo atrás de uma borboleta azul, bem grandona. Ela voava alto e bem rápido e quando eu percebi já estava perdido. E você? Como você vive sozinha aqui? Flores não vivem num jardim?

- Nem eu mesma sei como nasci aqui. Mas nasci e cresci sozinha. Fico tão triste sozinha! Sou Rosácea e você?

- Sou Blanco! Muito prazer!

Estava escurecendo e o cansaço de tantas brincadeiras fez com que Blanco dormisse bem ao lado de Rosácea.

Rosácea, soltava um perfume mais gostoso ainda, só para fazer Blanco dormir bem tranquilo.

Quando amanheceu, Blanco reconheceu o uivo de seu irmãozão, uivou para ele de volta e então o irmãozão de Blanco correu até ele.

Quando o irmãozão viu a flor, cheirou-a também e encantou-se com o perfume. Disse então para Blanco:

- Vamos levar para a mamãe! Ela gosta muito de flores! – e preparou um bocão para arrancar a flor com talo e tudo. Não deu tempo: Blanco uivou forte e alto e disse para o irmãozão:

- Se você tocar nessa flor eu vou chorar e morder você. Ela é minha amiga e vai ficar aqui!

- Mas é para a mamãe...

- Não! Se você arrancá-la ela vai ser só da mamãe e não vai durar muito, vai morrer. Se deixá-la aí, ela pode ser de todo mundo!

O irmãozão cedeu à razão de Blanco e foram embora, não sem antes Blanco dar uma última cheirada na Rosácea, um carinho que só eles dois entendiam.

Aconteceu ali um sorriso... um só não dois!

Passou algum tempo, Blanco já não era mais um lobinho. Cresceu e tornou-se um belo lobo branco, forte, esperto, inteligente e muito bonito.

Esperava sua vez de tornar-se o chefe da alcatéia ou então formar a sua própria.

Passeava pela mata e de repente lembrou-se de Rosácea. Recostou-se sobre uma pedra grande para descansar.

Pensava muito na Rosácea: saudades ele pensou!

Levantou-se de um salto, farejou a brisa do mar que chegava de longe, de muito longe. Reconheceu o “perfume” do mar, o cheiro da água salgada.

Disparou uma carreira desabalada, correu, correu, correu tanto que chegou à praia cansado, com a língua de fora.

Blanco farejava o ar, procurando o perfume de Rosácea, mas eram tantos perfumes misturados no ar...

Andava pela praia, aproveitou até para brincar um pouco com as ondas que chegavam fracas à praia.

Lembrou-se mais uma vez de quando era pequeno e sorriu um sorriso largo e uivou bem alto!

Ouviu seu nome num sussurro:

- Blanco! Blanco!

Apurou os ouvidos, procurou pela origem do chamado. Havia um jardim, enorme, repleto de flores e dentre elas não conseguia encontrar Rosácea.

Apertou os olhos, procurava ao longe e bem no meio daquele lindo jardim, Blanco conseguiu vê-la. Estava linda! Grande, com pétalas bem abertas, exalava um perfume maravilhoso, bem igual àquele que Blanco sentira tempos atrás.

Com muito cuidado, Blanco chegou-se até Rosácea e cheirou-a com muita delicadeza.

Rosácea retribui o carinho, exalando mais perfume ainda.

Ouviu-se um riso... um não: dois! Os velhos amigos agora riam juntos!

- Rosácea, você está linda! E me diga: como surgiu este lindo jardim?

- Você também está muito bonito, Blanco. Cresceu! Que belo lobo você é! E explicando como cresceu o meu jardim: assim como você não deixou seu irmão arrancar-me naquele dia, muitos passaram por mim e só deixaram carinhos sem arrancar-me daqui. O vento carregou meu pólen que fecundou estas areais. A cada nova florzinha que nascia, mais forte ficava meu perfume, mais feliz eu ficava. Desde o dia em que você me protegeu, começou a nascer este jardim: o meu jardim, o seu jardim. Nasceu assim: o Jardim de Todo o Mundo!

Os dois amigos riram mais e mais e numa despedida que podia ser por um segundo ou por toda vida, acarinharam-se uma vez mais, Blanco aspirando o perfume de Rosácea e ela, exalando o perfume mais gostoso do mundo.

FIM

Luiz Esteves R Neto
Enviado por Luiz Esteves R Neto em 02/02/2009
Código do texto: T1417320
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