NO FIM DO ARCO-ÍRIS - Conto Infantil de Tchello d'Barros

NO FIM DO ARCO-ÍRIS

por Tchello d'Barros

Lambarito é o nome de nosso herói, um peixinho da espécie dos Lambaris e que vive num riacho cristalino e muito tranqüilo.

Como não havia muito o que fazer por ali, ele passava o tempo treinando salto ornamental por cima d'água. Treinou tanto que os outros peixinhos ficavam admirados com suas piruetas e cambalhotas.

_Puxa, vejam como ele salta bem! - diziam alguns.

_Uau, veja só essa pirueta! - exclamavam outros.

Então, entre um mergulho e outro, notou que um dos moradores do riozinho estava em apuros. Era o Sr. Cascudo, um velho peixe que estava sendo molestado por um bando de Jundiás, os valentões do riacho, que tentavam espetar seus ferrões no pobre Sr. Cascudo, logo ele que vivia ali há tantos anos e nunca incomodou ninguém.

_Vamos ferrar com você! - diziam os Jundiás baderneiros.

_Rapazes, parem com isso, por favor! - respondia o velho peixe.

Quando Lambarito percebeu que o Sr. Cascudo estava em perigo, no mesmo instante começou a empurrar os juncos na margem do rio, para lá e para cá, como se fosse um grande animal chegando entre os juncos. Então os Jundiás pensaram que era o Lagarto do rio que estava chegando e debandaram imediatamente. Quando o lambarizinho viu que o Sr. Cascudo estava à salvo, tratou ele também de se esconder entre os seixos, onde os Jundiás não podiam

passar. Quando eles finalmente foram embora, os dois peixes se encontraram e o Sr. Cascudo agradeceu a ajuda do peixinho:

_Muito obrigado, não sei o que teria feito sem sua ajuda! - disse o peixe.

_Ora, não foi nada. Amigos são para os momentos difíceis também! - disse em resposta o peixinho. E assim selaram uma bela amizade.

Depois de todo esse perigo, ambos foram descansar um pouco no remanso das Rãs-cantantes. Mas naquele dia as rãs estavam um pouco divididas pois enquanto umas ensaiavam uma ópera, outras estavam improvisando um rap. Então, próximo aos juncos do remanso, os dois peixes ouviram um canto diferente, era a rãinha das rãs, cantando uma melodia suave, que falava de um lago distante, no fim do arco-íris, onde vivia um peixe muito bonito, a Truta Arco-Íris. Era uma música tão encantadora que o peixinho ficou imediatamente com vontade de nadar até esse lugar, pois ficou muito curioso para conhecer esse peixe tão lindo.

_Pense bem, amigo Lambarito. O rio é muito perigoso e além do mais aqui você está seguro! - disse o Sr. Cascudo.

_Ora, mestre Cascudo, eu não tenho medo dessa aventura. Aqui é tudo muito calmo, eu quero é conhecer esse lugar! - respondeu o jovem peixinho.

E assim ele iniciou sua jornada rio abaixo, à procura do misterioso lago. Foi seguindo o arco-íris sobre o rio, fascinado com suas sete cores vibrantes. Não foi muito longe quando de repente sentiu que estava sendo perseguido por um pequeno cardume de peixes Carás, que dominavam aquela região do rio. Ele tentava nadar o mais rápido que podia, mas eles estavam cada vez mais perto. Então notou que havia na superfície da água muitas flores de Hibiscos, caídas de um galho que ficava sobre a água. Lambarito acelerou e deu um pinote por cima d'água e ficou escondido em uma das flores. Ufa, essa foi por

pouco!

Mas os Carás não desistiam e ficavam por debaixo das flores fazendo

ronda e procurando o peixinho. Ele já estava quase sem fôlego quando

percebeu que alguém espantou os Carás. Para sua surpresa, viu que era seuamigo Cascudo, que veio em seu auxílio.

_Obrigado, mestre Cascudo! Mas o que o senhor está fazendo aqui por essas bandas? - perguntou o curioso peixinho.

_Ora, meu filho, sei como esse rio é perigoso. Por isso vim atrás de você, e depois estou há tanto tempo vivendo no mesmo lugar que sinto falta de novas aventuras. - assim falou o velho peixe.

_Ora, então venha comigo. Vamos em frente! - disse Lambarito, entusiasmado.

E assim seguiram os dois nadando juntos em direção ao lago prometido. Quando estavam debaixo de uma ponte, ouviram alguém lhes chamando. Logo viram que eram alguns Camarões-de-Água-Doce, que tentavam falar com eles.

_Ei, vocês dois! Já que estão indo para o sul, tomem cuidado, é que depois da curva do rio vive uma faminta Cobra-d'Água, que ataca todos que passam por lá. Tenham muito cuidado! - avisaram os Camarõezinhos camaradas.

_Obrigado, amigos Camarões! - responderam os viajantes.

Mesmo sentindo um pouco de medo, ambos seguiram em frente e quando eles passaram pela curva do rio, deram de cara com a Cobra-d'Água, verde por cima e amarela por baixo.

_Oba, carne fresca! Dois de uma vez! Agora vou encher a barriga! – sibilou a serpente.

E começou a perseguir em zigue-zague os dois peixes, mas nossos amigos dividiram-se para enganar a cobra. Enquanto o Sr. Cascudo foi para o fundo, Lambarito nadou para o alto. Então ela seguiu o peixinho, que dava seus saltos sobre a água. Ele nadou com muita velocidade para cima, até que atingiu a

superfície e deu um grande salto para passar por cima de um galho de Acerolas. A cobra tentou fazer o mesmo, mas quando saltou, o Sr. Cascudo segurou-a pela ponta do rabo e ela deu com a cabeça no galho. Caiu na água já com um

galo na testa e fugiu com muito medo daquela dupla que atuava em equipe.

_Parabéns! Viva! Parabéns! Vocês são muito corajosos! - disseram entre muitos aplausos, alguns pequenos Carangueijos que estavam por ali e assistiram tudo.

E assim, nossos heróis foram em frente, agora nadando mais tranquilos, longe do perigo. No entanto a calmaria não durou muito, pois notaram que a água estava mais turbulenta, pegando uma certa velocidade. Então começaram a ouvir um barulho muito forte e perceberam que estavam indo para uma cachoeira. O peixinho, mais que depressa, deu um salto e notou algumas folhas de Plátanos

sobre a água e disse:

_Calma, mestre Cascudo, não tenha medo! Suba comigo e vamos deslizar sobre as folhas na superfície. Confie em mim! - disse o peixinho.

E lá foram os dois. O Sr. Cascudo, deitado sobre a folha, agarrando-se na ponta do raminho, e Lambarito, destemido ia em pé, surfando a folha. Assim ambos desceram a cachoeira e deslizaram até o rio se tornar calmo novamente.

_Puxa vida, Lambarito! É muita emoção num dia só, ufa! - exclamou o peixão.

Agora estavam a salvo, ou pelo menos é isso que pensavam, pois de repente estavam com um problema. O rio estava se dividindo em dois e não sabiam qual direção tomar. Então Lambarito deu alguns saltos e avistou algumas Libélulas sobre a margem do rio e foi imediatamente perguntar para elas qual direção deviam tomar para chegar ao lago.

_Ora, tome a direção da direita! - diziam algumas!

_ Não, não, não! Sigam o rio na direção esquerda! - afirmavam outras.

Confuso, nosso amigo deu mais um salto e então ouviu a voz da Capivara, Que estava na margem assistindo aquela cena:

_Ei, peixinho! Não ligue para as Libélulas, pois elas são assim brincalhonas mesmo. Mas se quiser chegar até o lago da Truta Arco-Íris, tome o rio da direita e após passarem pela ilha das Garças, se passarem, pois elas são perigosas, vocês chegarão ao lago. - assim falou a Capivara, enquanto degustava umas Jabuticabas.

Assim, nossos heróis tomaram a direção da direita e foram em frente, agora mais contentes, pois sabiam que estavam cada vez mais perto de seu objetivo. Percorreram um bom trecho do rio e finalmente depararam-se com uma ilha no meio do caminho. Lambarito avisou o amigo sobre as Garças e assim ficaram de olhos bem abertos. O peixinho avistou algumas flores brancas na ramagem do rio e deu um salto para vê-las melhor. Porém, teve um susto, pois as figuras

não eram flores e sim as próprias Garças, que ao avistarem o peixinho voaram direto dos galhos para capturar os dois peixes. Algumas bicavam a água, outras mergulhavam e cada vez apareciam mais. Lambarito nadava debaixo do Sr. Cascudo, que tem umas escamas grossas como couraças, que faziam doer o bico das garças.Por azar o rio estava cada vez mais raso e já não tinham mais para onde fugir. Então o Sr. Cascudo teve uma idéia: Lambarito distraiu as Garças com alguns pinotes, sobre a água, enquanto o velho peixe escavou rapidamente uma toca no barranco do rio.

_Ei, Lambarito, por aqui! Esconda-se aqui, amigo! - disse para o peixinho.

Ambos entraram na toca e ali ficaram escondidos até que as Garças desistiram e foram pescar do outro lado da ilha. Os dois peixes então fugiram o mais rápido que podiam para se distanciar da ilha das Garças.

E assim, felizes por se livrarem de tantos perigos, foram em frente e

quando deram por si, estavam finalmente no portal de entrada do famoso lago da Truta Arco-Íris. Estavam quase entrando quando ouviram uma grande gargalhada seguida de uma voz que dizia:

_Ahá, sejam muito bem-vindos! - ouviram alguém dizer.

Quando olharam para o lado aí estava um peixão sorridente para recebê-los.

_ Sou a famosa Truta do lago e é um prazer recebê-los! Vocês podem me acompanhar por favor - dizia o peixe.

Mas os nossos amigos ficaram um tanto quanto desconfiados com os dentes afiados daquele peixe estranho. Para se certificar que estavam no caminho certo, Lambarito deu um salto sobre a água e notou que o peixe queria levá-los ao outro lado. Outro salto e deu de cara com um Sapinho, que lhe avisou para ter cuidado com aquele peixe pois era uma Traíra, que se fazia passar pela truta só para atrair os peixinhos e assim devorá-los. Mais que depressa, Lambarito cochichou tudo para o Sr. Cascudo e ambos resolveram dar uma lição na Traíra traidora.

_Muito obrigado pela recepção, mas não se incomode, por favor. Talvez queira conhecer a turma que está ali naquela ilha, certamente ficariam muito felizes em conhecer um peixão bacana como você! - assim falou o Sr. Cascudo, enganando a Traíra, pois ele não disse que a "turma" na verdade eram as Garças!

_Puxa, muito obrigado pela gentileza, esperem aqui então que já volto! – disse a Traíra gulosa, ao partir apressada mostrando num sorriso os dentes afiados.

Mal ela chegou na ilha e as Garças partiram para cima dela. A última coisa que Lambarito viu de longe, num de seus saltos, foi as Garças voando e carregando a Traíra tratante para dentro da ilha.

Então, de repente, de dentro do lago, ouviram-se muitos vivas, muitas palmas, gritos e sorrisos. Muitos tipos de peixes apareceram no portal do lago para receber os dois heróis que tinham acabado com o inimigo do lago. Nossos heróis se surpreenderam com tudo e ainda estavam ouvindo os aplausos quando soaram as trombetas e os peixes todos abriram alas para a rainha do lago, a verdadeira Truta Arco-Íris.

Ela veio recebê-los pessoalmente e deu um abraço em Lambarito, que quase desmaiou de emoção. Ela era ainda mais linda do que ele imaginara. Ela convidou-lhes então para uma festa de comemoração e para ficaram morando com eles naquele lago encantador.

Na festa, muitos Lambaris e Cascudos homenagearam os heróis recém

chegados e todos divertiram-se muito, especialmente quando Lambarito fez uma breve demonstração de seus saltos ornamentais.

No último salto, na pirueta, teve tempo de olhar para o céu, e perceber que ali naquele lago onde ele estava tão feliz, é que era o fim do arco-íris.

Tchello d'Barros