A ONDA
— Cuidado, gritou o urso para todos os bichos que o pudessem escutar.
— Bum, Crash, Crinsh...
Alguma coisa monstruosa vinha descendo o morro provocando pânico e destruição, não poupando nada e nem ninguém, gritos de socorro ecoavam pela floresta, outrora tranqüila.
— Pula gritou a onça para o macaco prego.
—Tem mais descendo o barranco estou ouvindo gritou o tatu escapando por pouco de ser esmagado ao entrar em sua toca.
— Cadê o macaco? Gritou a onça que ao se virar viu seu amigo ser atingido em cheio por alguma coisa pesada no galho que o protegia, as coisas pulavam e sem ver direito estavam abandonados à sorte naquela noite nublada e sem lua.
— Tem muito mais descendo, protejam-se falou a jiboia sendo atropelada na mesma hora.
— Parece não ter fim, vem de todos os lados gritou o urso.
— Vamos para longe avisem todos para não ficar no pe do barranco, falou a onça.
E todos saíram em disparada uns ajudando os outros e mesmo assim sentiam medo por não saberem o que estava acontecendo só ouviam o barulho dos galhos quebrando e dos gritos apavorados. Correram sem olhar para trás ate uma clareira no meio da mata e quando chegaram se reuniram para descansar e saber se todos estavam bem e para alegria da onça...
— Você escapou? Que bom pensei que tinha se ferido, perguntou para o macaco prego.
— Alguma coisa acertou o galho onde eu estava e fui jogado longe, mas cai numa moita que me protegeu, só não vou poder usar o meu rabo para me pendurar por uns dias esta doendo muito, respondeu o macaco, foi o veado que me trouxe.
— Cadê a cobra e o tatu perguntou o tamanduá para o grupo e todos balançaram a cabeça negativamente.
— Quem sabe o que era que descia o morro? Eu não pude ver nada, alias não quis nem saber sai correndo para ajudar o macaco falou o veado.
— Eu acho que era uma onda gigante chamada tissunami só ela tem essa força, falou a preguiça, ela se forma dentro do oceano quando há um terremoto no fundo do mar, ela e tão grande e poderosa que destrói tudo pela sua frente e o que nos atingiu com certeza foram os destroços que ela empurrava.
— Como pode acontecer isso? Quis saber o lobo.
— O nosso planeta e como se fosse um punhado de folhas boiando em um lago e agora imagine que as folhas são a nossa terra, e se você prestar atenção nas folhas quando a mexermos elas subirão umas sobre as outras e algumas menores ou que estiverem mais baixas, a água subira sobre elas em ondinhas e isso em milhões de vezes maior é a tissunami, explicou a preguiça.
— Mas você não disse que foi no fundo do mar? Perguntou o lobo.
— Imagine agora se as folhas estivessem no fundo do mar e se mexessem umas sobre as outras empurrando toda água sobre elas, não se formaria uma onda na superfície? É esse movimento de uma folha sobre a outra ou simplesmente empurrando e que produz o maremoto que nada mais e que um terremoto no fundo do mar, o nosso planeta e um monte de placas que tem em sua superfície os oceanos e a terra com a nossa floresta.
— E mesmo falou o castor toda vez que eu puxo os troncos embaixo da água para fazer minha represa faz uma ondinha que sobe nas margems do rio.
— É isso a tissunami! uma onda que sobe nas praias levando com ela tudo pela frente. A provocada pelo castor só serve como exemplo porque não destrói nada.
— Mas a floresta fica muito longe do mar, falou o urso.
— Eu só vejo essa explicação para o que estava acontecendo, falou o lobo.
— A explicação foi legal, mas você esqueceu de um detalhe disse o castor, ninguém se molhou ou viu água.
— Então não era uma onda gigante, o que aconteceu? Quis saber a onça.
— Vamos esperar amanhecer e ver o que aconteceu, falou o lobo.
As nuvens se foram e nem sinal de chuva se fez presente, ao contrario uma lua cheia brilhou no céu, e assim puderam descansar por um breve momento para que pudessem com segurança ver o que aconteceu e localizar seus amigos, e assim fizeram no raiar do dia partindo em busca de uma resposta e quando chegaram viram o mato amassado e muitos arbustos tombados e...
— Olha só o que provocou isso, falou o tamanduá, pneus, dezenas deles espalhados por todo lugar.
— E por isso que ninguém os via no escuro. Falou a onça, alguém aproveitou a noite para jogá-los aqui e provocar toda esse desastre.
— Eles ainda acham que mato e um lugar sujo, e perigoso não jogariam esse lixo na casa de seus vizinhos, ate quando vamos ter que suportar isso.
— Ate o dia que todos nos desaparecermos eu creio, falou o a coruja.
— Ai vai ser tarde demais para todo mundo inclusive eles que acreditam que podem viver sem nos, disse a onça.
— Silencio estou ouvindo um pedido de ajuda vindo debaixo daquele pneu, falou o tamanduá.
E todos ficaram em posição de alerta e quando o macaco prego levantou o pneu... para a surpresa de todos lá estava o tatu preso em sua toca com fome e cansado, e quando viu seus amigos correu para perto deles com uma alegria contagiante, mas ainda faltava a cobra e todos saíram a sua procura ate que...
— Ela esta aqui embaixo desse pneu, falou o urso.
E todos se reuniram para ajudar a remover o pneu que era gigantesco e pesado e para a surpresa de todos, ela estava ali esticada e sem vida o que fez a tristeza tomar conta de todos e um por um sem dizer nada levantou a cabeça e olhou pausadamente para os pneus balançando a cabeça, como que perguntando o porque disso tudo? E foram saindo entre os arbustos retorcidos e quebrados pelo peso dos pneus e em silencio sumiram dentro da floresta tristes e cabisbaixos, deixando para trás a marca da intolerância.