PARA A COBRA MARIZÉ

Amiga cobra Marizé

Depois da tua partida a bicharada nunca mais foi a mesma. A mata perdeu aquele encanto que tinha quando tu serpenteavas por entre o mato toda pintadinha. Era bonito ver uma cobra tão elegante reverenciada por um papagaio falante: - currupaco, papaco, olha a Marizé aí!

A verdade é que todos estão cheios de saudade. Nunca mais houve baile à beira da maré e neste momento, em que está escurecendo, o sapo estufa o peito de saudade suspirando. O macaco, pulando de galho em galho, fala sempre do acontecido. Culpa o Corujão que, sem jeito, pede perdão por ter estragado o teu vestido verde-limão.

Por aqui as novidades não são muitas. O pavão vaidoso, depois da tua partida, mudou-se para o serrado. A cigarra Azulina compôs a canção “Amiga Ausente” para cantar no próximo concerto que será realizado na lagoa. A produção de mel, na colméia da abelha Melzinha, está indo muito bem. A anta Antelina tem filhotes novos, fortes e bonitos. Meméia, a centopéia, ainda não encontrou os seus sapatos cor-de-rosa, mas não desistiu, continua procurando. A coelha Lili é a nova moradora da toca que era a tua casa. Ah, ia me esquecendo, a onça pintada ganhou o concurso “Quem sabe mais?” Fiquei desiludido com o macaco, e eu que pensava que ele era sabido.

Dia desses chegou aqui, na mata atlântica, uma arara turista e para a alegria de todos, trouxe notícias da amiga. Disse que estás feliz e que ganhaste do senhor Tiroró, o avestruz, um chapéu enfeitado com folhas de mastruz. Disse, também, que encontraste um ótimo costureiro, um velho crocodilo pantaneiro.

Eu espero, querida amiga, que realizes o sonho de ter um lindo vestido para ser a rainha do baile de algum jacaré mato-grossense, assim que baixar a água da maré.

Envio-te esta carta nas asas do vento morno para que chegue, sem transtorno, ao pantanal onde vives agora.

Como viajar eu não ouso, receba forte abraço do amigo saudoso.

Jacaré Formoso.

06/04/06.

(brincadeira de inventar história)