O bosque encantado
Uma noite dessas eu estava estudando em meu quarto, fazendo um texto que minha professora havia pedido. E eu ia escrevendo, escrevendo, quando de repente fui transportado para um lugar estranho, um lugar que eu nunca tinha visto antes. Era um lugar muito bonito, cheio de árvores, pássaros e rios.
Quando cheguei lá dei de cara com um esquilo que parecia já estar sabendo que eu ia chegar e estava me esperando. E o esquilinho falou para mim:
- Sebevimeni! (Seja bem-vindo, menino!)
E respondi:
- Obri! (Obrigado)
Respondi tão rápido que parecia que eu sabia falar aquela língua estranha que meu novo amigo falava.
Perguntei a ele onde é que eu estava, que lugar era aquele e ele me disse que era o Bosque Encantado ou Bosque dos Encantos e que tudo o que eu pensasse e quisesse de verdade se realizaria. Fiquei com um pouco de medo na hora, porque não é sempre que tudo o que a gente quer acontece, não é?
E enquanto eu me deliciava com a idéia de ter tudo o que eu quisesse o esquilinho falou para mim:
- Valovotemobos. (Vamos logo, vou te mostrar o bosque)
E eu fui atrás do meu amigo.
O problema era que ele não ia só pelo chão, mas também pelas árvores e pelo céu.
- Um esquilo voador? Pensei.
- E agora, como vou fazer para acompanhá-lo? Estas árvores são muito altas e não tenho asas!
Foi quando lembrei do que ele tinha me falado, de que tudo que eu quisesse eu conseguiria. Então fechei os olhos e me imaginei de asas, duas grandes e bonitas asas, e quando abri os olhos já estava voando sobre o bosque, batendo minhas asas e brincando no céu. Foi quando o esquilinho gritou:
- Dejaquevotemoumami. (Desce já que vou te mostrar um amigo)
Então pousei num gramado bonito, bem verdinho, e continuamos nosso passeio, só que caminhando. Andamos, andamos e andamos muito. Tinha tanta árvore que dava medo de se perder, mas ainda bem que eu estava acompanhado do esquilo, que conhecia muito bem o bosque. Por onde passávamos as árvores nos cumprimentavam e nos davam seus frutos para que provássemos:
- Oisebevimeni! (Oi, seja bem-vindo, menino!)
Passamos por um rio muito bonito, de água bem clarinha que dava até pra ver as pedras do fundo e os peixinhos nadando em cardume. Naquele rio caía uma cachoeira muito alta, mas tão alta que parecia que a água estava caindo do céu. Paramos uns minutos para beber água. Enquanto nos refrescávamos uma música bem calma e tranqüila tocava e fazia com que a gente se sentisse melhor e disposto a caminhar mais um pouco. Foi quando me dei conta de que aquela música vinha da cachoeira e mudava de ritmo quando se derramava no rio. Então entendi que eram a cachoeira e o rio que falavam comigo, e respondi:
- Obri! E continuei:
- Vosamuile. (Vocês são muito legais) E eles refletiram uma luz muito forte, me agradecendo também.
O esquilo já estava impaciente, pulou em meus ombros, me cutucou e disse:
- Vameniquesoltain. (Vamos, menino, que o sol está indo)
Balancei a cabeça dizendo que sim e seguimos nosso caminho.
Um sapo de cartola preta passou pela gente e ergueu a cartola, nos cumprimentando. Fiz o mesmo sinal para ele, só que não tinha cartola nenhuma.
Enquanto caminhava admirando a beleza do bosque, ouvi um barulho que me deu medo. Na hora tremi desde a ponta do dedinho do meu pé até o último fio de cabelo da minha cabeça. Era uma espécie de rugido, e vinha da nossa frente. Limpei meus olhos com a mão e olhei melhor. Vi uma espécie de uma caverna. Mas era uma caverna diferente, com uma ponte para chegar até ela e um imenso portão na frente. Eu nunca tinha visto uma caverna como aquela, bem, eu nunca tinha visto uma caverna antes.
O esquilo percebeu que eu estava com medo e me acalmou, dizendo que lá era onde vivia o rei do bosque e que não era para eu demonstrar medo diante dele, mas sim respeitá-lo, e muito. Meu amigo então assoviou e a ponte, que estava erguida, foi abaixada para a gente passar. Ao chegar do outro lado da ponte demos com o nariz na porta, então perguntei:
- Covafaent? (Como vamos fazer para entrar)
O esquilo deu risada da minha curiosidade e do meu nervosismo, se aproximou da porta e bateu nela um toque diferente, tipo um código Morse. Era mais ou menos assim:
- tóc, tóc, tóc, tototóc, totototóc, tóc, tóc, tóc, totóc, totototóc, totóc, tóc.
Assim que ele terminou de bater a porta da caverna se abriu e uma voz grave e forte mandou que entrássemos. Entramos. Era enorme. Tudo muito simples, mas maravilhosamente bonito. Bem no fundo um trono, de onde a voz nos chamava. Era o rei. Nos aproximamos. O esquilo disse ao rei:
- Majestade, esmenivepassenobosvimapreloavós. (Majestade, este menino veio passear no bosque, vim apresentá-lo a vós)
E o rei, que estava de costas se virou para mim e, sorrindo e falando normalmente, me cumprimentou:
- Olá, menino, seja bem-vindo ao Bosque Encantado. Espero que tenha gostado do passeio.
Respondi que sim, que nunca havia estado em um lugar tão lindo antes.
O rei era uma espécie única, uma combinação de alguns animais. Sua cabeça era de leão, mas os olhos de águia; seu corpo era de um cavalo forte e a cauda de dragão. Ah, ele ainda tinha duas grandes asas de gavião. Era um cruzamento meio estranho, mas ele era o rei, fazer o quê?
O rei então me explicou sobre meus sonhos, me dizendo que eu não devo ter medo de sonhar, de desejar algo. Disse-me que meu passeio estava chegando ao fim, e que ele realizaria mais um de meus sonhos, por enquanto.
Ele propôs que eu ficasse com eles no bosque, eu moraria em uma árvore especial com o esquilo e ia ter tudo do bom e do melhor e nada tiraria minha calma e tranqüilidade. Achei a proposta maravilhosa,e pensei:
- Nossa, era tudo o que eu queria. Viver em um lugar lindo como este deve ser maravilhoso!
E no mesmo instante pensei:
- E minha família, meus amigos, meu cachorro e meu gatinho, como é que ficam? Eu nunca mais poderei ver ninguém?
E senti uma grande tristeza por pensar nessa possibilidade. Eu, ficar longe de minha família, meus amigos, meu cachorro e meu gatinho? Nem pensar!
Olhei para o rei e fiz o meu pedido. Desejei voltar para minha casa. O rei aceitou e disse que sempre que eu desejar voltar ao bosque para passear, conversar com o esquilo que, mesmo sendo um pouco quieto e apressado, é um amigo legal, ou até para visitá-lo, serei bem recebido.
Então ele se virou, pegou seu cetro real e pediu para que eu fechasse os olhos. Ele foi falando umas palavras estranhas, algo que eu não entendia. De repente senti como se estivesse balançando, chacoalhando e uma voz doce e suave me dizia:
- Abra os olhos, menino!
Era minha mãe.
- Vá para a cama, está na hora de dormir.
Dei um beijo de boa noite nela, fechei meu caderno e fui deitar. Foi aí que me dei conta de que tudo não tinha passado de um sonho que me fez, em poucos minutos, viajar por outros mundos, outros lugares. Fiquei pensando naquilo até o sono chegar, e percebi que tudo aquilo havia surgido do meu caderno, do que eu estava fazendo e entendi que, sempre que eu quiser voltar ao Bosque Encantado é só abrir o caderno e começar a escrever.