A menina que morava na nuvem
Naquele dia a nuvenzinha amanheceu escura. Decidiu que ficaria quieta porque a menininha que a habitava amanhecera triste.
As estrelinhas, amigas de brincadeiras da menina já tinham se recolhido para dar passagem ao Sol que já iria nascer e nessa espera a menina adormeceu. Mas não sonhou seus sonhos coloridos de sempre. Havia muito barulho na Terra e a menina teve pesadelos.
Então o Sol surgiu, sorridente como sempre e foi dizer “Bom Dia!” à toda a natureza que já o esperava ainda sonolenta. E como sempre fazia, o primeiro caminho do Sol era acordar a menina. Chegava devagarinho, acariciava seus cabelos dourados e lhe dava um beijo no rosto, o que imediatamente tornava suas bochechas rosadas. A menina sorria, o Sol sorria e continuava sua jornada.
Mas não naquele dia, pois a menina estava diferente. Então o Sol pegou suas mãozinhas e disse-lhe:
_Se você quiser que eu lhe faça companhia eu fico aqui com você. Quer me contar o que aconteceu?
Então ela contou-lhe sobre os pesadelos, dos barulhos vindos da Terra. O Sol explicou a ela carinhosamente que os barulhos da Terra eram necessários e eram apenas sinais de chuva. Ela não precisaria sentir medo porque acima das nuvens ela estaria segura. Mas a menina não se consolava e perguntou-lhe:
_Mas por que a chuva tem que fazer tanto barulho? Isso me assusta.
E o Sol respondeu-lhe:
_ É porque para haver a chuva é preciso que haja ventos e os ventos fazem barulhos.
_E por que os ventos precisam fazer barulhos?
_É para acordar as nuvens e avisar que está na hora de molhar a Terra pois é assim que nascem as flores. E a menina sorriu. Mas lembrou que havia também a menina da Terra que era malvada e a magoava. O Sol também se assustava, à vezes, com comportamento de tal menina mas ele gostava dela porque ela era barulhenta, brincalhona e sorridente e quase sempre fazia cosseguinhas na barriga do Sol para ouvi-lo gargalhar. Então ele explicou à menina da nuvem:
_A menina da Terra é uma menina agitada, por isso ela grita.
_Ah!... exclamou a menina da nuvem.
E o Sol continuou...
_Sabe por que ela grita? É porque precisa espantar o duende das folhas senão ele cria tantas folhas, mas tantas folhas, que ela não pode me ver. E ela também precisa ter as bochechas rosadas como você. Por isso ela não é tão malvada como parece. É apenas o jeito dela mostrar que fica triste porque eu fico mais perto de você do que dela. A cada vez que amanhece ou anoitece, quando ela não pode mais me ver, ela olha para aqui, onde está a sua nuvem e vê meus raios aqui com você.
Assim a menina da nuvem começou a entender as razões da menina da Terra. E percebeu que elas eram muito parecidas e apenas moravam em lugares diferentes. Então a tristeza da menina da nuvem passou e ela olhou para o Sol com seus olhinhos claros e disse:
_ Vamos fazer uma surpresa pra menina da Terra?
O Sol concordou sem saber o que seria e a menina andando até a beirada da nuvem macia e conduzindo o Sol pela mão, falou:
_Minha nuvem vai fazer uma chuva e você vai colocar seus raios sobre ela e vamos ver o que acontece. E assim fizeram. E a menina da Terra sentiu a chuva molhando seus cabelos e rosto, estendeu as mãos para segurar um pouco da água da chuva.
No mesmo instante algo aconteceu. Seria mágica?
A menina da Terra mal podia acreditar no que via: ela tinha a ponta do arco-íris brilhando nas próprias mãos. Acompanhou seu colorido com os olhos até em cima, onde a menina da nuvem lhe sorria segurando a outra ponta.
Nesse momento os três entenderam; a menina da nuvem, a menina da Terra e Sol, que eles faziam parte da mesma natureza e que precisavam um do outro para poder formar o arco-íris.
Desde esse dia até sempre, a menina da nuvem nunca mais se assustou com os barulhos da Terra e a menina da Terra nunca mais precisou espantar o duende das folhas para ver o Sol porque ambas sabiam que nenhuma poderia tirar o lugar uma da outra e ambas continuariam a ter o Sol para colorir-lhes as bochechas.
Todos ficaram felizes porque já sabiam que quando se sentissem tristes ou sempre que quisessem, poderiam formar o arco-íris e mesmo que fosse só algumas vezes, nunca mais sua beleza seria desfeita pois ele tinha-se formado em seus corações.
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