É PRIMAVERA NA ROÇA DO ESPANTALHO ZÉ-PALHOÇA -Parte ll
O assunto logo se espalhou.
Zé-Palhoça era muito querido e todos ficaram preocupados com o fato. A notícia correu de boca em boca:
- O Zé-Palhoça não sente cheiro.
-Não tem olfato. -corrigia um papagaio metido a falar tudo muito certinho.
-É!... Isto é coisa grave! -sentenciou um sapão gordo de voz grave.
-Será que ele sara?...Será que tem cura? -Perguntou a sara-cura aflita com voz estridente.
-Só quem pode saber é o sabiá. -lembrou a tartaruga cheia de rugas pelos muitos anos vividos. E continuando - O sabiá sabe de tudo.
O sabiá não sabia. Queria saber também. Sugeriu que se consultassem o Dr. Corvo. Só ele, Dr. Curvo, corpo curvado pelo peso dos anos, poderia, com sua sabedoria e experiência de vida, resolver tamanho problema. Mas ele andava sumido. Alguém o teria visto?
-Eu vi. Eu viiii...viii!
Todos olharam para cima cheio de esperanças. Era o bem-te-vi que chegava.
-Onde está ele? -perguntaram-lhe , assim que pousou.
-Ele...quem?
-O Dr. Corvo.
-Sei lá de Dr. Corvo.
-Mas você gritou que o viu.
-Eu???
Um tico-tico conhecia bem o bem-te-vi e veio em seu auxílio:
-Este bem-te-vi mal vê o que se passa diante do bico dele. Ele é míope.
Ficou todo mundo desanimado. o que fazer para encontrar o dr.corvo?
Um chupim que observava tudo de longe, com receio de se enturmar, criou coragem e se aproximou dizendo que sabia onde encontra-lo.
Acharam-no isolado, como um ermitão, no topo de um grande monte. E ele veio devagar, devagar,tão velhinho que se encontrava!
Ainda bem que a idade (mais de cento e vinte anos -dizem) não lhe afetou a visão, pois nem bem chegou deu com os olhos na causa da falta de olfato do espantalho.
O corvo ficou calado olhando em volta antes de dizer, deixando todos curiosos. O mais curioso era um curió molecote, que, impaciente gritou:
-Ei, velho, diga logo o que é.
Todos olharam-no com descontentamento pelo modo desrespeitoso com que dirigiu a palavra ao ancião. Este olhando-o com ar de desprezo encarou-o sério e sem demonstrar rancor respondeu:
-Velho. Mas valho.
Em seguida, concluiu:
-Como este espantalho há de cheirar, se não possui nariz?
Ficou todo mundo sem saber se ria, ou se enfiava a cara num buraco, como faz a avestruz.
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