Contatos Alienígenas
- Alienígenas! Alienígenas!
- Nada! São nada!
- São sim!
- Não são não! Se fossem teriam antenas!
- Que nada. Por que tem que ter antenas?
- Porque sim! Alienígenas têm antenas!
- Você é um bobo!
- Bobo é você que não reconhece um alienígena quando vê um!
- Como se você visse um alienígena todo dia!
- Esses aí são.
- Ei! Ei! Que discussão é essa?
Os dois meninos pararam imediatamente de brigar. Nicinha estava de braços cruzados em frente a eles olhando com cara de quem estava morrendo de rir por dentro. Nicinha era a menina mais linda da escola. Também a mais inteligente. Só tirava nota alta e era chamada de "nerd" porque nunca faltava às aulas. Mas era a melhor amiga deles.
- O Mario disse que os homens trabalhando no prédio ali em cima são alienígenas. – falou Rafael.
- E são mesmo!
Nicinha desandou a rir.
- Alienígenas? – e ria mais e mais – Aqueles são pedreiros trabalhando em uma construção! – e seu riso ecoava pela rua.
- Tá bom! Tá bom! Vamos parar por aqui antes que alguém se machuque! – falou Mário com um muxoxo, e saiu bravo com os amigos que não entendiam nada de alienígenas.
No final da rua existia uma casa chamada de “mal assombrada” pelos moradores da cidade, porque desde que o proprietário morrera, há muitos anos, ninguém mais morou lá. Então a molecada do bairro fez seu reduto e ponto de encontro nessa casa, por saber que podiam aprontar todas que ninguém entraria. Aproveitavam para fazer barulhos que consideravam assustadores para afugentar possíveis curiosos. Nessa tarde após a aula, combinaram uma reunião na casa para discutir sobre o novo campeonato de futebol da escola, que esse ano iria admitir meninas nos times. Isso era imensamente desonroso para eles. Imagine uma menina no time? Seria intragável. Só os homens bem preparados como eles deveriam participar do campeonato.
- Menina no time! Essa agora é muito boa! – falou Nandinho.
- Não seja bobo, todos têm os mesmos direitos. Até as meninas. E olha que tem umas que jogam bem pacas. Você não viu o treino de ontem? A loirinha sobrinha da Professora de Educação Física? – falou Rafael.
- É! Até que ela joga bem!
- Bem? Ela joga bem pra caramba!
A turma toda já estava na casa quando os dois entraram.
- Aí Mário! Até que enfim! A reunião ia começar sem vocês.
- Tá! Tá! Chegamos!
- E aí o que rola? – perguntou Daniel.
- O campeonato. Querem colocar meninas nos times. – falou Carlinhos, o magrelo da terceira série.
- É. Já ouvi o professor Rogério comentando. – disse Daniel.
- Que esperança! Não vou concordar mesmo. – bradou Nandinho.
Nandinho era filho da professora de artes, estava na 4ª série e era sempre metido a mandão.
- Todo mundo sabe que a gente concordando ou não quem fala mais alto é a professora de educação física. E aí todo mundo sai perdendo porque a filha da professora quer entrar. – disse Mário.
- Acho que nós somos minoria nessa. – falou Rafael.
- Por que minoria? – perguntou Mário.
- Some o tamanho da professora e a beleza da filha dela, ficamos numa baita minoria.
Todos riram, mas tiveram que concordar com o colega. Contra a força não há resistência. Ditado que o professor de matemática sempre tem na ponta da língua quando se refere a sacanear os meninos. E a escola estava sendo campeã em trapacear com os homens da escola com essa de colocar meninas nos times de futebol. Era de lascar!
- E aí galera! – entrou todo eufórico e vermelho o menino que todos achavam que era "nerd". O pobre usava óculos de grau com lentes muito grossas, estava sempre de camisa de botão e calça parecida com as dos pais dos garotos. Nunca se reunia com eles e andava pelos cantos da escola conversando com alguém, através de um aparelhinho parecido com um comunicador da polícia. Por isso levou o apelido de “Tira”.
- Ei Tira! Quem o convidou para essa reunião? – perguntou um emburrado Daniel.
- Ninguém! Mas acho que vocês devem ver o que está acontecendo atrás da casa.
Como a curiosidade matou o gato, saiu todo mundo em disparada para ver o que era tão estranho para o "nerd" do Tira.
Nos fundos da casa havia uma área que devia ter sido um grande quintal. Ainda existiam algumas árvores frutíferas quase cobertas pelo mato, mas com frutos pendurados. Algumas vezes os meninos iam até lá para pegar alguma fruta mais atraente. No entanto era difícil isso acontecer, porque não havia muitos corajosos no grupo para tal façanha. E o quintal era mesmo medonho de se olhar.
- Deve haver pelo menos dez tipos diferentes de cobras aí, incluindo uma sucuri gigante! – exclamou Mário já pensando em alienígenas.
- Na verdade, deve haver mais que cobras. Acho que só cobra seria muito pouco! – era um gordinho que se escondia atrás da porta da casa, olhando por uma pequena fresta, com tanto medo que chegava a tremer.
Tira foi indo destemidamente para o local onde vira o que queria mostrar aos meninos. Venham! Olhem! E abriu com os braços uma fresta no matagal que escondia seu achado. Os meninos chegaram perto devagarzinho, e, ops! O que era aquilo? Parecia uma pedra. Mas brilhava tanto que podia cegar quem chegasse mais próximo.
- Ei! O que é aquilo?
- Uma pedra brilhante!
- Pedra? Parece um ovo!
- É um OVNI! – falou Mário convicto.
E a discussão ia esquentando. Ninguém percebeu que o Tira havia sumido. De repente do objeto não identificado pelos garotos veio uma voz:
- Não se aproximem muito. Somos amigos. Queremos que vocês nos ouçam.
- Quem está falando? Ei Tira, onde está você?
- Ele sumiu! Não está aqui.
- Só pode ser ele tentando nos meter medo.
E a voz continuou:
- Vocês agora serão nossos convidados, venham sem medo.
- São efeitos especiais. Só pode! O Tira deve estar brincando com a gente.
- Nada! O Tira nem tá aqui.
- Ora! Ele colocou algum controle remoto na coisa.
Aí foi um susto geral. Da coisa saiu uma nuvem de fumaça que foi se transformando lentamente em algo parecido com gente. Mas não era exatamente uma pessoa. Era uma nuvem com forma de pessoa. E a nuvem se parecia demais com o Tira!
- Quem é você? – perguntou corajosamente Mário.
- Sou um habitante do Cosmos. Temos vários irmãos aqui neste planeta Terra. Eles se misturaram a vocês para nos dar orientação do que fazer.
- Manhêeeee! Socorro! – e o gordinho saiu detrás da porta em disparada para a rua, sem nem olhar para trás.
Os outros foram se afastando lentamente para alcançar a porta deixada aberta pelo fujão, mas quanto mais eles tentavam, menos conseguiam. Aí saiu do meio das moitas de mato um vapor cinzento que envolveu a todos, e os levantou no ar como se fossem plumas. O vapor os deixou sonolentos imediatamente, e quase inconscientes foram levados para dentro do ovo brilhante que estava ficando maior. Ou seriam eles que estariam diminuindo? Vai saber! - pensava Daniel meio confuso. Depois de alguns segundos nada mais se via ou ouvia no velho quintal. Ficou tudo muito quieto.
Quando os meninos acordaram do torpor causado pelo vapor, estavam sentados com as costas apoiadas em uma parede muito lisa e branca.
- Daniel! O que está acontecendo? – perguntou Nandinho.
- São alienígenas, eu disse. – falou Mário.
- São mesmo. – concordou Rafael.
- Tenho que admitir que só podem ser mesmo. – disse meio a contragosto Nandinho.
- Mas o que eles querem com a gente?
Nesse momento apareceu uma nuvem tomando vários formatos, ora de gente, ora de um pássaro e falou com uma voz metálica:
- Vocês serão nossos convidados por algumas horas. Precisamos conversar. Mas deixem me apresentar. Sou o comandante desta nave e venho do planeta Morfus. Meus comandantes estão ocupados nesse momento para nos levar para um passeio. Não se preocupem, todos vocês estarão de volta à Terra na hora de seu jantar. Ninguém sentirá sua falta nesse meio tempo. Como sabemos? Nosso contato, que vocês chamam de Tira, um nome deveras engraçado esse, nos deu todas as dicas necessárias.
- Ei! Quer dizer que o Tira é seu contato? – perguntou Mário bem curioso.
- Nós somos prisioneiros? - perguntou Rafael.
- O que vão fazer com a gente? – Perguntou Nandinho com muito medo.
- Calma. Calma, meninos. Não vamos lhes fazer mal nenhum. Só precisamos fazer alguns testes, porque necessitamos de informações genéticas a respeito de sua constituição e formação física.
- Para que? – falou quase sem voz Rafael.
Ele Estava morrendo de medo desse tal teste.
- Através dessas informações, poderemos trazer novos contatos para seu planeta. Usaremos essas informações genéticas para construir corpos iguais aos seus onde estarão incorporados os membros de nosso planeta, que nos darão informações importantes. Essas informações serão usadas apenas para nosso conhecimento e evolução. É assim que nosso planeta conseguiu até agora ter um grande progresso no espaço sideral. Estamos presentes em quase todos os planetas do Universo. Com isso conseguimos passar de um planeta insignificante para uma potência da atualidade.
- Comandante! Nós diminuímos ou sua nave cresceu? – perguntou Mário curioso.
Todos olharam para ele. É mesmo! Que foi que aconteceu? Afinal no ovo que eles viram no quintal só cabia o pé de um deles.
- Esse é o problema da maioria dos planetas do Universo. Espaço. Vocês precisam de muito espaço para viver. Nós não. Somos assim como vêem. Um vapor, e nos moldamos ao espaço onde estamos. Neste momento vocês estão em seu tamanho normal, porque queremos que os testes nos dêem a forma real de cada um. Como conseguimos isso? Colocamos vocês envoltos pelo vapor dentro da nave, esse vapor os deixa com o volume adequado ao tamanho necessário para o transporte até uma plataforma de nossa propriedade. É aí que estamos. Enquanto conversamos vocês estão sendo analisados, estudados, seus genes estão sendo copiados, e daqui a alguns minutos estará tudo concluído.
- Há quanto tempo estamos aqui? - perguntou Rafael.
- No seu tempo estamos aqui há uma hora.
- Puxa! Vai ser uma história e tanto na escola. – falou Mário todo feliz.
O Comandante riu um riso metálico, mas não ameaçador.
- Bem meninos. Estou recebendo a informação que tudo está concluído. Iremos partir de volta a seu Planeta.
E um vapor novamente envolveu os garotos e os levou de volta ao ovo, que eles sabiam agora ser uma nave.
De repente todos se viram no quintal da velha casa, com as árvores sendo agitadas pelo vento.
- Ei Tira! O que viemos ver aqui que não vejo nada? – perguntou Daniel.
- Acho que me enganei. Pensei ter visto alguma coisa interessante aqui atrás. Desculpem. – e saiu para a rua pelo vão da cerca quebrada.
Fora da casa na calçada, Tira falava em seu intercomunicador:
- Tudo bem! Eles não lembram nada. Esperarei os próximos contatos no local de sempre. Desligo.
E Tira saiu andando calmamente pela calçada, atravessou a rua e entrou em um terreno baldio ao lado da padaria, onde um vapor azul ficou flutuado até de manhã na hora da primeira aula.
Os meninos entraram na casa velha e pensaram em terminar a reunião sobre o futebol, mas quando Rafael olhou no relógio disse:
- Caras! Meu relógio está doido, já são seis horas.
Os outros olharam para os seus relógios e ficaram pasmos, era mesmo seis horas da tarde.
- Como passou tanto tempo? Quanto tempo mesmo ficamos lá no quintal? – perguntou Daniel.
E Mário disse:
- Falei! Eu disse que eram alienígenas. Agora vocês têm de concordar. Como poderia ter passado duas horas sem que percebêssemos?
- Eita! Aí vem o Mário e seus alienígenas. A hora passou porque passou. A gente brinca e não vê a hora passar. É só isso. – falou Rafael.
- Sem discussão. – falou Nandinho – tenho que ir voando para minha casa se não minha mãe me mata.
E cada um deles saiu em direção a suas respectivas moradias, sem pensar mais no ocorrido no quintal da velha casa mal assombrada.
Mas Mário, esse lembrava vagamente de um ovo brilhante no meio do mato no quintal. O que seria aquilo? Iria perguntar ao Tira.
No dia seguinte, a primeira coisa que Mário fez na escola, foi procurar o amigo com cara de nerd.
- Ei Tira! Que ovo era aquele no quintal ontem à tarde?
- Ovo? Que ovo?
- O que você nos mostrou.
- Não lembro de ovo nenhum.
E uma fumacinha azul quase invisível envolveu a cabeça de Mário. E o Tira perguntou:
- Você viu algum ovo brilhante ontem?
E Mário olhou para o garoto esquisito de óculos de fundo de garrafa, com ar de quem estava se divertindo muito e falou:
- Ovo brilhante? De que você está falando? Esses nerds têm cada uma!
E saiu para a sala de aula rindo do amigo.
Tira pegou seu aparelhinho intercomunicador e seguiu falando baixinho, com um leve sorriso nos lábios e um olhar satisfeito do dever cumprido.
Afinal, todos, aqui e no espaço, somos amigos. E amigos, se respeitam.