INVISÍVEL
Às vezes me pego falando sozinho, chego a gesticular, outro dia tinha um camarada andando com pressa e fazendo o mesmo, não tinha tempo para dar atenção nem para seu fantasma. Corria e quase tropeçou numa pedra. A raiva dele era tanta que gritou um palavrão. Aprumou-se e por ter parado de falar acho que continuou seu caminho só, ainda bem, porque pelo jeito a discussão, entre os dois estava feia e quase o nocauteou Esse tinha um fantasma trapalhão.
Bem diferente o de outro cidadão maltrapilho e com um jeito trôpego, devia ter sorvido em altas doses da “água que passarinho não bebe”, deu um passo em falso antes de subir na calçada, que quase o fez ir ao chão o que lhe fez reclamar:
— Você saiu do lugar! Assim eu caio, droga!
E para minha surpresa abraçou fraternalmente o poste de iluminação publica e sentou-se ao seu lado em posição de lótus, elegante, se pôs a conversar com ele rindo e gesticulando como bons e velhos amigos, seus olhos fitavam o alem enquanto falava, e os meus, por segundos eternos, aquele quadro, e ai ele levanta seu braço com a mão aberta e fala com a voz embolada com a língua para seu amigo:
— Eu admiro a sua retidão, você é o “cara”, você é “dez” meu chapa! Que caráter!
E com um ar de riso e as duas mãos no poste:
— O único capaz de afastar as sombras da noite, as penumbras da alma.
E soltou uma gargalhada estrondorosa.
— Agente tem que tomar “uma” um dia desses. Bradou as gargalhadas.
E deitou-se no conforto da sombra de um amigo. E perto dali um garoto brincava alegremente embaixo de uma mangueira, falando e gesticulando enquanto organizava seus brinquedos em suas raízes. Pela sua alegria estava em excelente companhia. Vi até mesmo quando uma manga madura caiu em seus pés, na certa, um presente de seu amigo, um fantasminha legal.
DiMiTRi 17/9/2006 22:54