O NINHO!
O NINHO!
Acordei cedo.
Estava preocupado, ansioso mesmo!
Vesti-me com pressa.
Minha ama, uma velha de cabelos brancos, cinqüentona, foi quem me ajudou.
Diziam sempre que eram cinqüenta anos bem vividos, nunca dei importância.
Não me interessavam seus anos de vida, mas sim sua ajuda sempre na hora certa.
Durante toda a noite, eu sonhei que era um gavião e que morava no alto da serra.
E de longe poderiam avistar o meu ninho, muito grande, bonito, no topo e na beirada daquela pedra maior, saliente como uma agulha.
Acho que foi por isso que acordei preocupado, ansioso por chegar a janela e verificar se o ninho ainda estava lá no mesmo lugar.
Tomei o café. Um só gole. Doeu-me a garganta. Estava quente. Não quis comer nada, estava sem fome e com muita pressa.
Naquele momento eu queria mesmo era ir até a janela. A babá achava graça. Ir para a janela agora, cedo ainda? Nem uma alma viva passando na rua?
Mas,
tanto falei,
tanto insisti.
Pulei da cadeira, empurrei-a para trás, joguei-a ao chão e corri. Corri para a janela fazendo muito barulho e gritando:
- Eu vou ver o meu ninho!
Ele é grande,
é bonito!
Quem quiser que venha também!
Estava encantado, com a boca aberta. Como estava linda a serra! Azul, todinha azul! Uma beleza!
O céu ajudava muito. Branco e escuro. Umas partes brancas, outras escuras. De repente, na baixada da serra, eu vi fumaça.
Fumaça?
Sim, fumaça.
Mas, por que aquela fumaça na minha serra? Atrapalhando... escurecendo?
Eram flocos de fumaça que não desapareciam e nem aumentavam. Muitos flocos.
Fiquei indignado com aquilo.
Fumaça na minha serra? E o ninho? Onde estava agora? Sumiu? Teria a fumaça tapado o ninho?
Corri mais uma vez naquela manhã, em direção à babá. Agarrei sua saia e gritei alto:
- Onde está meu ninho?
Onde está?
Quero, quero, quero o meu ninho agora.
E comecei a chorar.
A babá não sabia o que fazer. Não sabia mesmo do que se tratava. E eu
continuava a chorar, a gritar e a fazer birra.
Minha mãe, coitada, assustada acudiu. Perguntou-me o que era e comecei outra
vez a gritar e a perguntar pelo meu ninho.
Quis então saber que ninho era esse que me fazia chorar tanto.
E eu respondi:
_ É ninho de gavião!
Ontem eu era um gavião e tinha meu ninho lá em cima, na serra.
Hoje acordei, corri para a janela e lá estava o meu ninho.
Mas a fumaça...
Fumaça feia!
Eu quero meu ninho, não quero a fumaça!
E puxando a saia da minha mãe. Eu sempre gostei de puxar a saia dos outros. Minha mãe, bondosa como era, meiga e docemente respondeu:
- Meu filho, aquela fumaça tem que ficar lá por enquanto.
Ela está tapando o seu ninho. É a fumaça da velha feiticeira. É uma maldosa. Sempre gostou de fazer mal aos outros. Ela tapou seu ninho com a fumaça. O desejo da feiticeira é queimar sua serra. Ela soube que você gosta da serra e quer destruí-la.
Mas eu sei de um modo para combater a bruxa!
Concluiu minha mãe, com tanta meiguice, que gostei.
Quis saber logo, de repente, que meio era aquele de matar a bruxa.
- Não, você não matará a bruxa.
mas impedirá que ela destrua sua serra,
afirmou minha mãe.
É preciso, entretanto meu filho, que você se comporte muito bem hoje. Prometa não ser um menino ruim, que não gosta de trabalhar e de estudar.
Eu já estava inquieto e perguntei alto:
- Mas, mamãe, que meio é esse de não deixar a bruxa fazer o que quer?
É esse mesmo, filho. Você prometer ser um bom menino, respondeu minha mãe.
- Sim, mamãe. Então eu prometo. E corri para a janela.
A fumaça ainda estava lá e o meu ninho não.
- Mamãe, eu prometi e agora? A fumaça ainda está lá!
- Eu sei, meu filho. Você prometeu. Mas, tem que esperar um pouco.
Você tem que ser paciente. Espere um pouco...
A paciência é uma das armas contra o mal! Concluiu minha mãe.
Esperei. De tarde fui ver a serra. A fumaça havia desaparecido e o meu ninho
não estava lá. O meu ninho de gavião!
Alguém chamou-me.
E corri para a rua...