MEMÓRIAS DE UM PASSARINHO



Meu nome é Amigo, um nome estranho para um passarinho,  não é?

Mas é muito bom ser chamado de amigo!

Quer saber como eu recebi esse nome? Pois vou contar:

 

Lá vinha eu voando feliz pelos aires, quando de repente, no meio de um quintal, avisto um banquete dentro de um quadradinho gradeado. Desci,  entrei e comecei a bicar aquela comidinha deliciosa.  Eu não   imaginava  o que me viria pela frente. 

De  repente, fui aprisionado!

 

Qual o meu crime?  Cantar e cantar bonito, sem contar que possuo uma bela plumagem. Desculpe-me a modéstia.

Bom, naquele instante fiquei apavorado, comecei a gritar feito louco, o meu algoz achava graça, exibindo-me para os seus comparsas, dizendo:

 

- Vejam como ele canta lindo!

 

Eu não estava cantando  lindo  coisa nenhuma, era o meu grito de desespero.

 

Depois ele  me colocou numa gaiola.  Que lugar horrível e apertado.  Fui obrigado a comer alpiste. Coitadinho de mim... Que tormento!

 

E o tempo foi passando, e todos os dias eu sonhava com a minha liberdade.

Mas algo estranho aconteceu:  o menino que me prendeu se afeiçoou a mim. Toda a manha levava-me para tomar banho de sol, passou a cuidar de mim com muito carinho. Falava-me de seus sonhos, ele queria ser jogador de futebol; contava-me as suas traquinagem; suas alegrias; contou-me que uma vez levou uma surra do pai por roubar uma goiaba no quintal do vizinho; falava-me  que adorara conversar comigo, porque eu era o seu melhor amigo.  E passou  a chamar-me  de Amigo.

 

Aquilo me enternecia, mas ali não era o meu lugar, eu nasci para ser livre.

 

Um dia eu arquitetei a minha fuga: eu iria ficar bem quietinho, quando ele abrisse a gaiola para repor o alpiste, eu fugiria.

 

Mas eu tive uma surpresa no dia que eu iria fugir. Ele abriu a gaiola e falou:

 

- Amigo tu és livre, por amor a ti eu te liberto, o teu lugar é na natureza.

 

Eu fiquei perplexo! Imóvel, mas ele falou rudemente:

 

- Vai amigo, antes que eu me arrependa,  te prenda novamente e não te solte nunca mais.

 

Antes de ir, reparei que lágrimas ralavam pelo seu rostinho sardento. Aquilo partiu meu pequeno coração de passarinho. Foi comovente ver o meu amiguinho  chorar. Mas como já havia falado,  ali não era o meu lugar, então voei o mais alto que podia, ganhei  os aires,  o céu, as copas das árvores, enfim, tudo que a natureza podia me proporcionar.

 

Mas algo ficará guardado para sempre em minha memória de passarinho:

 

“O  sentido de ser e  de ter um AMIGO” .

jambo
Enviado por jambo em 07/10/2008
Reeditado em 07/10/2008
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