O mosquito e o leão: uma fábula contemporânea

Era uma vez um mosquito já meio entrado em anos e que tinha levado sempre uma vida muito saudável, mas que um dia se sentiu meio enfastiado, o que o levou a consultar Dr. Leão, o médico.

Tendo examinado o mosquito, o leão concluiu que sua inapetência decorria da completa ausência de dentes em sua boca, coisa que ele resolveu com extrema habilidade implantando-lhe numerosos dentinhos pequeninos, o que alegrou o mosquito que passou a ostentar um belo sorriso, mas apenas por um curto espaço de tempo; não demorou para que o inseto voltasse ao consultório com nova queixa: alegava que, embora seu apetite tivesse retornado, e que ele adorasse abocanhar gulosamente as suas vítimas, suas mordidas, ao contrário das antigas picadas, pareciam causar dor, acarretando, em conseqüência, bordoadas tremendamente humilhantes que o deixavam em um estado lastimável, além da dificuldade em se alimentar adequadamente. Ouvida a queixa, o leão examinou novamente o mosquito, concluindo que ele tinha mesmo um problema grave: sua cabecinha minúscula o deixava vulnerável à revolta e pancadaria das vítimas, coisa que ele poderia resolver com facilidade; como hábil cirurgião que era, aplicou-lhe um transplante, adicionando-lhe uma descomunal cabeça de leão. Terminada a operação, o leão contemplou sua obra e comentou: — quero ver agora quem ousará lhe desferir bordoadas.

Mas o mosquito nem chegou a se alegrar com a nova cabeça, logo se percebeu incapaz de movimentar, o que o impedia, é claro, de se alimentar, levando-o a se queixar novamente ao médico que, ao examiná-lo, concluiu, quase de imediato, que havia mesmo um problema, pois notou que seu corpo era minúsculo e franzino, devendo ser trocado por um mais robusto, coisa que fez em seguida, transplantando-lhe um corpo de leão.

Apesar da enorme perícia do cirurgião, é fundamental que se diga que, após tantas cirurgias, o leão-mosquito tinha uma aparência meio capenga, meio derrubada, mas não foi isso o que o fez retornar ao médico, sua nova queixa era que, depois de tantas cirurgias, ele se via incapaz de voar, o que o entristecia muitíssimo acarretando-lhe inapetência maior que na primeira consulta; agora nada mais lhe interessava, muito menos comida.

É bem verdade que, tendo ouvido com extrema atenção toda a história do mosquito, e de tê-lo mandado repetir a queixa mais de uma vez, o leão não conseguiu compreender com exatidão as causas daquelas lamúrias. Mesmo assim o examinou completa e minuciosamente, para concluir que se encontrava em perfeito estado de saúde , de modo que o novo diagnóstico lhe atestava perfeitas condições físicas e o encaminhava a um psiquiatra.

Moral da história: Embora só consigamos encontrar a perfeição frente ao espelho, as tentativas de adequar os outros a nossos próprios padrões resultam apenas em absurdas quimeras. Voe com suas próprias asas se disso for capaz.