VISITANDO O PARQUE ECOLÓGICO
Cumprindo a rotina do programa semestral da grade curricular das escolas de ensino fundamental de sua região, o garoto Pé no Bolo esteve visitando o parque ecológico de sua cidade em companhia dos pais de alunos, professores e colegas de classe das escolas da comunidade onde ele mora.
A presença dos pais era facultativa, mas era imprescindível que eles tomassem conhecimento de todas as atividades ocorridas durante aquele dia letivo.
Ficou acertado que os pais dos alunos deveriam participar da elaboração de um relatório minucioso relativo àquela visita, com base nas próprias impressões, complementadas com as impressões e/ou informações dos seus filhos.
O pai de Pé no Bolo quis acompanhá-lo e o garoto fez questão de não desgrudar dele um segundo sequer.
Pé no Bolo também esteve o tempo todo fazendo uma marcação cerrada aos seus professores. Parecia aquela marcação que é exercida por um jogador que atua na defesa de um time de futebol, tentando, assim, evitar as investidas do atacante artilheiro do time adversário.
Após algumas horas de visitação ao parque, era chegada a hora de todos retornarem para a escola, e só após retornarem para suas respectivas casas, pais e alunos se incumbiriam da efetiva elaboração do relatório, de forma conjunta. Pé no Bolo esteve irrequieto durante algum tempo após ter chegado à sua casa, mas o pai dele, ao perceber essa mudança de comportamento de seu pimpolho, foi logo lhe botando as palavras:
- Meu filho, eu estou notando que você está muito preocupado com a elaboração do nosso relatório. O que você acha que deveríamos mencionar nele?
O garoto Pé no Bolo, muito esperto que o é, sem pensar duas vezes, respondeu:
- Papai, eu acho que nós deveríamos mencionar algo inédito, quem sabe, alguma
informação que nenhum pai ou mestre fosse capaz de reproduzi-la com a mesma clareza que nós dois.
- O que você sugere? – O pai dele perguntou.
Pé no Bolo coçou a cabeça, andou de um lado para o outro e demonstrando muita preocupação, respondeu-lhe:
- Papai, não há nada de excepcional a ser mencionado no nosso relatório, a não ser que nós mencionemos que as aves e os pássaros que nós vimos hoje estavam muito tristes devido à poluição do ar impregnada nas folhas das árvores onde eles se abrigam. E que os sapos e os peixes existentes nas águas do parque estavam ofegantes, sem condições de respirar direito, porque o oxigênio existente na água não era suficiente para que eles continuassem vivendo ali por muito tempo.
O pai do garoto Pé no Bolo parou um pouco para refletir e em seguida contestou-o, com certa ponderação:
- Meu filho, pense e reflita, um pouco, comigo. Se formos relatar, na íntegra, tudo o que vimos lá no parque, decerto, iremos comprometer a veracidade das informações prestadas pelos demais alunos de sua escola; ademais, se esse relatório sugerido por você for divulgado para eventuais ambientalistas que pensem e ajam como você, a imagem daquele parque ecológico poderá ser afetada negativamente; ele tenderá a não será visto como um lugar ideal para a visitação de cunho educacional das escolas e, por extensão, das futuras crianças de nossas comunidades.
Pé no bolo procurou assentir com um balançar de cabeça, dando a entender que havia concordado com o argumento do pai dele e ali, meio chateado, decidiu encerrar o seu relatório, fazendo apenas as suas considerações finais:
- O senhor tem razão, papai, vamos encerrá-lo por aqui. Vamos fazer, então, como a maioria das pessoas faz. Vamos fechar nossos olhos, ignorando todos os problemas que estão à nossa volta. Vamos fingir que isso que está acontecendo lá no parque, nos córregos e charcos de nossa região, em nada irá nos afetar no futuro e pronto.
Vamos fazer de conta que nenhum de nós poderá fazer algo para ajudar um ao outro em nossas comunidades e que esses problemas socioambientais ora existentes não continuarão dessa maneira por muito tempo. E elaboremos, então, nosso relatório de “faz de conta” - e quis rir em seguida.