Poema dos Insetos.
POEMA DOS INSETOS
Lucas Durand
1.
Zum, zum, zum, zum
Ninguém me pega
Ninguém me toca
De noite te furo
De dia na toca
É noite sem sono
Eu mordo e escondo
Zunido atrevido
Bem no seu ouvido
Na casa ou palhoça
É picada que coça
É calombo que brota
Atacamos em frota
Todo o idiota
Que não põe repelente
Que espanta a gente
Seu pão duro, marmota
Sovina, coroca
Palhaço, paçoca
Por isso te pica
Esta muriçoca!
2.
Zum, zum, zum, zum
Fabrico bom doce
E pra você trouxe
Do mundo o melhor
Meu doce é mais doce
Da planta, da flor
Nela vou buscar
O meu néctar
E o mel fabricar
Pra doenças curar
Pra você alimentar
Mas se me tocar
Se me perturbar
Se tentar me pegar
Vou te ferroar
E lhe atacar
Depois vai inchar
Preciso trabalhar
Vê se em mim se espelha
Eu vou fazer mel
Pois sou uma abelha!
3.
Zum, zum, zum, zum
Sou meio asqueroso
Sou interessante
Meu vôo é rasante
Da terra amante
Seu pé me esmaga
Mas não me confunda
Com jabuticaba
Eu não dou patada
Posso estar na salada
Ou no pé de goiaba
Não sou caramujo
Mas ando só sujo
De mim ninguém gosta
Pois vivo na bosta
Não sou um estouro
E nem da cor de ouro
Nem branco nem louro
Nem feito de couro
Nem sou um calouro
Eu sou um besouro!
4.
Zum, zum, zum, zum
Sou pequenininha
Eu me acho lindinha
E sou tão miudinha
Eu faço cosquinha
Eu gosto de pêlo
Detesto o gelo
Estou no camelo
No cão do teu zelo
Até no seu cabelo
Ando saltitante
Dou pulinho constante
Sou quase invisível
É quase impossível
Ver esta coisinha
Tão engraçadinha
Meio nogentinha
Na sua caminha
Cheirosa e limpinha
Ali escondidinha
Esta fofa pulguinha!
5.
Zum, zum, zum, zum
Em todo o planeta
Não há uma sarjeta
Que eu não me meta
Sou muito careta
Bastante espoleta
E muito vulgar
Não há um lugar
Que não vejo falar
E até mesmo odiar
Quando chego a voar
Pois vou logo pousar
Em qualquer lugar
E tentar me tocar
Não vai adiantar
Pois eu vou voltar
Não importa seu grito
Nem pobre nem rico
Sou muito raquítico
Pequeno e esquisito
Sou um ágil mosquito!
6.
Zum, zum, zum, zum
Não durmo de touca
Estou no guarda-roupa
Nas vestes e na colcha
Sou pequeno faceiro
Estou no travesseiro
No quarto inteiro
Até no terreiro
Eu sou traiçoeiro
Camuflo ligeiro
Sou muito matreiro
Eu mordo e não mato
Pareço um carrapato
Sou pequeno de fato
Não sou benfazejo
Não me vê e te vejo
Não gosto de queijo
E nem cacarejo
Não sou caranguejo
Tenho ginga e molejo
Pois sou um percevejo!
7.
Zum, zum, zum, zum
Sou trabalhadeira
Pequenina e faceira
Posso ser doceira
Às vezes cortadeira
Só ando em fila
Como procissão
Sempre estou no chão
Moro lá no porão
Corto o seu jardim
É comida pra mim
Eu subo na mesa
Pra comer sobremesa
Eu sei que irrito
Não importa seu grito
Lá vou eu e meu bando
Tudo carregando
E você nem liga
Sou muito atrevida
E não se faça de amiga
Desta pobre formiga!
8.
Zum, zum, zum, zum
Sou meio redondinho
Não sou bonitinho
Onde pico há calombo
No boi vivo no lombo
No cachorro também
Se você a mim vem
Tu me levas pra casa
Eu não tenho asa
Tenho as pernas pequenas
Eu não tenho antenas
Cabeça miúda
Que nunca desgruda
Quando mordo de fato
O sangue é meu prato
E se me arrancar
No local vai coçar
Você foi lá no mato
Eu vim pro seu quarto
Seu bobo e chato
Eu sou um carrapato!
9.
Zum, zum, zum, zum
A mulher se irrita
Ao me ver ela grita
Fica um espanto
Ao me ver lá no canto
Apronta alarido
E chama o marido
Que vem com o sapato
Pensando que é rato
Rastejo e ligeira
Pelos cantos da casa
Tenho antena e asa
Só vôo baixinho
Saio de fininho
Escondo na fresta
Pois eu não sou besta
De ser esmagada
Odeio chinelada
Que de mim vem à cata
E está atrás da lata
Esta esperta barata.
10.
Zum, zum, zum, zum,
Eu poso em tudo
Você fica sisudo
Sujo a comida
Na mesa servida
Sou muito ligeira
Gosto de sujeira
Se a casa está limpa
Cheirando a tinta
Eu não apareço
Por que não tem resto
Jogados no chão
Eu vou pro lixão
E comigo um montão
Se não quiser me ver
Não deixe de ter
Tudo bem limpinho
Bem arrumadinho
Cubra o doce e a rosca
Que lá vai voando
Esta charmosa mosca!
Fim.