Piau

“Piau”

Trá-la-la-lá. Trá-la-la-lá. Hoje eu vou pescar e um monte de piau eu vou pegar. E se ninguém vier me ajudar, não vou dividir o peixe para outro depois vir buscar. No alto deste jequitibá, vou descer e me esbaldar. Nenhum piauzinho vai sobrar.

O piau é ladrão de iscas, vive nos poços, nas margens, antes e depois da corredeira. Jogou milho verde ontem como ceva e será minha pescaria derradeira. Com a boquinha pequena de coelho e três pintas no lado e amarela nadadeira, este é o piau cabeça-gorda, a espécie verdadeira.

As favas do jequitibá parecem hélices de helicóptero caindo no chão. O piau três pintas tem no máximo 30 cm e pesa 2 quilos, não é tão grandão. Mas olhando de perto, pela sua velocidade e força, posso confundir com o piauçú que é deste tamanhão! Piauçú tem a boca grande, o corpo curto e espesso e a cabeça também. Pesa além de 4 quilos e mede mais de meio metro e não cuida do seu neném.

Todo piau abandona os ovos e os filhotes depois da piracema final. Alguns nem sobem mais os rios, pois o homem bloqueou com represas, a escalada natural. O seu corpo é alongado, e no calor, nada mais do que o normal. Comendo principalmente insetos e outros bichinhos que não fazem mal. Eu adoro pescar piau.

Tem também o piau flamengo, sem pintas e faixas pretas. Ele é menorzinho com 30 cm, as barbatanas são vermelhas e ele se mete no meio das gretas. Seu outro nome é piau-pinima, que é vermelho em tupi, igual ao jaú que é ya-hu, peixe guloso outro nome que se dá aqui. Todo bicho tem nome indígena, pois eles são os donos originais das terras daqui e ali. Por exemplo; pi’awa é piau, que é o mesmo que peixe, e mora no estado do Piauí.

São mil tipos de peixinhos. Piapara, piauçu, piau-três-pintas, piau-flamengo, piau-verdadeiro, piau cabeça-gorda, piava, piau-catingudo, piau-jejú, piau da lagoa ou tambiú. São alguns o mesmo bicho, outros são priminhos. Mas não deixo de papar nenhum.

No nordeste saindo do Alagoas até o Piauí e Maranhão, o povo fala cantando, rimando e com muita diversão. Hoje estou feliz de rimar o tempo inteiro, fora do centro-oeste, de acordo com o peixão. Depois de roubar a isca do pescador, o piau também escapou da minha mão. Mas eu acho que não custa um dia de fome e aprendi uma lição. Deixar de gulodice exagerada e só pescar com precisão. Pois se ele consegue da isca ser ladrão. Eu também consigo – com meus versos capengas de camarão – seqüestrar seu coração.

JB Alencastro