Vida de anjo
Habitamos o sossegado refúgio dos anjos, uma nuvem branca arredondada com ondinhas levemente azuladas nas bordas.
Em cada saliência um de nós dorme enlevado pelos sonhos celestiais.
A harpa dos céus se faz ouvir nos dando a sensação de paz que precisamos para acreditarmos em nossa condição de anjo.
Tudo esta afinado neste cenário, menos meus pensamentos que insistem em lembrar o cachorro que me acompanhou enquanto eu era criança.
Fui dona do Lico com quem brincava de argolas e bolas. Parecíamos bobos.
Gostávamos de ajudar as velhinhas atravessar avenidas, mesmo as que não queriam atravessá-las. Divertíamos-nos o tempo todo.
Nunca pensei que me reservariam um lugar no céu depois de termos descambado na ladeira o carrinho de compras de Dona Margarida. Foi só risada, minha e do Lico.
Talvez eu esteja aqui por ter salvo meu cão que quase morreu atropelado. Salvei sua vida em troca da minha.
Dona Margarida agora cuida dele, mas não riem tanto. Daqui da nuvem vejo os dois andando lado-a-lado e fico feliz, afinal ele tem uma boa vida de cachorro.
Xi, agora preciso fingir que estou dormindo é hora da vigília.