Acará -açú ( oscar )
“Acará-açú”
Estou precisando de umas férias. Queria logo ficar grávida, esperar os cinqüenta dias e ter meus filhotes. Ontem botei meu rabo no oco da lama e o caranguejo deu aquela mordida. Gritei alto, igual quando eu acasalo. E esbagacei o crustáceo na pedra. Como não tenho saliva, fui lavá-lo. Aí juntou dois peixes famintos. Eram uns acarás-açús. Agressivos, predadores, carnívoros. Saí na mesma hora. Minha refeição é sagrada.
De cima do pau vi o casal se afastando com rápida natação. Devem ter uns 35-40 cm e pesar quase um quilo e meio. São fortes. Geralmente escolhem o parceiro. Colocam ovos, milhares deles. No início do namoro é uma mordeção total, mas eu sou fã desses jogos de boca. A fêmea depois é gentilmente amassada numa pedra chata e ele fecunda os ovinhos. Não sem antes o macho ter lambido o local. Romântico, não?
Depois é que é mais legal. O papai Oscar (também tem esse nome) coloca os ovos todos na boca, pois eles ficam pesados. Até os filhotinhos ele carrega, enquanto não chegam à medida de um centímetro. Ambos protegem a prole.
Na cheia é que começa a vermelhidão do corpo, maio e julho. Seu tom verde-escuro tendendo para o preto fica coberto de manchas vermelhas. Os ocelos, que são manchas bem parecidas com olhos, e todo Oscar tem uma enorme na nadadeira caudal, ficam mais ressaltados. Aparecem até novos ocelos. Acho que na Natureza inteira quando apaixonamos nós ficamos mais bonitos. É um sinal honesto de coloração reprodutiva. Para mim a vida fica rosa, que nem uma música francesa...
O Oscar não migra, eu o vejo direto ali, com sua fêmea. Recebeu este nome de acará porque suas escamas são duras, peixe diurno, sedentário. Daqui a um ano os filhotinhos serão adultos. Eles desovam mais de uma vez por ano.
Já vi humano capturando eles para colocar em aquário. Fiquei sabendo inclusive que eles quando criados desde pequenos adoram os donos e deixam-nos coçarem suas costas e vem comer na mão. Chegam a dar saltos. Acho errado. Botar um animal desses em um aquário! Aposto que o pulo é para fuga...
A desova é do início da enchente até a cheia. Eu sempre sei por que marco por aquele tronco caído – ele mora lá debaixo- o nível das águas. Esse negócio de nadar de ré para afugentar os inimigos é uma boa, uma arma a mais. Eles comem mais insetos, peixes-gato e depois meus amados crustáceos. Vão durar uns dez anos assim. Mudando de cores.
Quando eu fico com vergonha, fico vermelha. Com fome, amarela. Enjoada, verde. Com medo, branca. O acará-açú só muda de cor para namorar e você, é igual a quem? Eu ou o Oscar?
JB Alencastro