A onda Ondicléa
A onda Ondicléa veio lá das bandas do norte do pólo norte. Vinha ligeira engolindo todo o mar.
Há muito tempo Ondicléa conheceu as areias de uma praia tropical e então se apaixonou por elas mas o destino foi cruel e a levou com a força dos ventos para bem longe, lá onde só havia gelo, gelo e mais gelo.
Ondicléa ali ficou por muito tempo, até perdeu as contas. No começo contava com suas espumas os dias, depois as semanas, meses, anos até que perdeu espumas e também as contas, o que Ondicléa não perdeu foi a esperança de um dia reencontrar as areias da tal praia tropical e matar sua saudade...
Naquela manhã Ondicléa acordou disposta a fazer alguma coisa. Não sabia bem como, mas precisaria livrar-se daquelas montanhas de gelo que lhe seguravam e mantinham longe da liberdade e possibilidade de seguir rumo as areias. Então, resolvida, lutou com todas as suas forças de onda revolucionando e sacudindo tudo a sua volta. Juntou com seus braços de água, toda profundidade do mar que pode abraçar e mergulhou fundo ganhando embalo e num salto fenomenal, saltou alto por entre as paredes de gelo e pronto, livre seguiu com toda a força que tinha, assim, do tamanho da sua saudade e rolou mar a fora com tanta pressa que Ambrisa, a brisa amiga que soprava suave por ali até parou para perguntar-lhe o porque de tanta pressa.
Ondicléa explicou tudo a Ambrisa que se emocionou com a história da amiga e resolveu ajudá-la. Chamou todos os ventos, seus irmãos e juntos sopraram com tanta força que rapidinho Ondicléa foi alcançando seu destino e engolindo bolinhas, até que conseguiu finalmente rever as areias da praia tropical.
Bem, o nome da tal praia eu não sei, as areias eu também não vi, mas as aves que voavam por ali me contaram que o encontro de Ondicléa com as areias foi tão lindo que Ambrisa e seus irmãos até se esqueceram de soprar e ficaram ali, parados e emocionados ao ver Ondicléa deitando sobre a areia o beijo e o abraço que em sua saudade trazia.
Você pode estar pensando que o tempo que Ondicléa teve para matar sua saudade foi muito curto diante do sacrifício que fez, mas ela não pensa assim não, ao contrário, Ondicléa deixou registrado naquela praia que não há força suficiente capaz de separar ou diluir um grande amor. Quando se ama de verdade, um segundo pode equivaler a séculos. Mais vale viver um segundo de amor do que nunca conhecê-lo.
Quanto a nossa amiguinha, essa voltou para o seio do mar profundo, mas voltou feliz e certa de que tudo é possível quando acreditamos e Ondicléa acredita que um dia conseguirá voltar a encontrar-se novamente com as areias da tal praia tropical por quem até hoje ainda é apaixonada.