Ema
“Ema”
Ame a ema. Sempre ouvi isso, mas nunca tive muita amizade com essa ave veloz e corredora. No passado todo mundo do cerrado a chamava de nhandú. E eu adoro palavras e bichos que começam com “nh”e “lh”. Acho muito chique. Ela correndo de asas abertas, como se comemorasse um gol é muito lindo de se ver. Um metro e meio de envergadura e com um esporão na ponta. E a dança do acasalamento? E os roncos grossos que soltam?
A dama é amada. O macho é maior e mais escuro, tem quase dois metros de altura. Ele fica rodeando a fêmea escolhida, no momento, cheio de gracinhas. O ninho cabe uns quinze ovos, como cada namorada só bota uns quatro a cinco ovos, ele tem que arrumar pelo menos três para encher o ninho. Mas só ele cuida. Elas vão embora. Ele é bom de conquista, mas ruim de manutenção.
A base do teto desaba. Eu não gosto disso, meu negócio é fazer um parzinho para o resto da vida. Eu quero ser parceirinha para sempre. Passam uns 40 dias aproximadamente e saem as eminhas daquele ovão. Com umas duas semanas já correm muito bem. Quando adulta, uma ema chega até uns 60 km por hora. E só com três dedos no pé...
Este não é meu. Assim como o macho namora mais de uma, depois a fêmea cruza com outros três rapazes. Vira uma bagunça! Os cientistas, e o meu sexólogo de plantão chamam esse negócio de acasalamento poligínico–poliândrico. Minha avó chama de suruba mesmo... Vovó sempre foi sábia, professora de muitos recursos...
A lua é aula. Quando chega a noite ela descansa. E quando alguns ovos goram é até bom para os que nasceram, pois junta um monte de insetos que servem de alimento. Ema é forte porque come de tudo desde filhotinha. É onívora. Sementes, folhas, insetos –lógico- moluscos, cobras, lagartos, até pedra; para melhorar a digestão. Muito útil no equilíbrio ecológico... Precisam ver as cobras fugindo.
A cara rajada da jararaca? Morre de medo de ema e de seriema. Na seca o ema suporta bem o calor, e quando começa a chover em outubro é quando fica namorando. Mas se a precipitação for exagerada ela fica doente, pois as asas não são impermeáveis.
A torre da derrota. O homem agora destrói o cerrado para plantar monocultura. A que eu mais odeio é a da soja. Milhares de hectares iguaizinhos. A ema é aceita porque come as pragas. Contudo muitas vezes morre por comer folhas cheias de agrotóxicos. Não tem coisa mais triste do que um entardecer de horizontes iguais. Soja, soja e soja. Nem gente trabalhando tem, só trator. Que povo é esse que planta comida pra gado e não pra sua própria espécie? O que eles comem afinal? Os agrotóxicos? Vão acabar virando emas solitárias sem formar casal e sem ninho pra morar.
JB Alencastro