Tatu

“Tatu”

Passeando pelo cerrado eu acho um monte de buraco. É buraco de tatu. Mas qual deles? Para o sujeito que não conhece, tatu é a mesma coisa. Como tem gente que acha que todos os homens são iguais e as mulheres também. Errado, as pessoas são únicas e os tatus também. Existem vários tipos de gente e de desdentados. Tem que olhar de perto.

Vamos pelas listras. Se tem nove é o tatu-galinha. O verdadeiro, o mais comum, o bonitão. Outro dia vi quatro andando juntos. Ele me disse que eram irmãos, todos idênticos, quadrigêmeos. Se a placenta é a mesma; dá poliembrionia, eu não sabia. Coisa de obstetra... Os outros todos, o peba, o de rabo-mole, o bola e o canastra, geralmente têm apenas dois filhotinhos. Mas todo tatu é gêmeo.

Agora em agosto eles acasalam. Se você ver um de dia, é o peba. Ele é peludo, cabelo branco nas costas, não tem como errar. E – dizem – come defunto. Por isso os índios o chamam de “aiva”, tatu ruim. Ele é o campeão da escavação. Faz mais buraco do que precisa. O galinha aproveita, a coruja buraqueira também. Tem dia que cava tanto que as costas ficam imundas da terra mexida. Será que a mãe dele não o manda tomar banho?

Por falar em banho, se passar um riachinho por perto, procure rastro de canastra. É o gigante da família. Mais de um metro de comprimento, uns sessenta quilos. Quase não tem pêlo, e se contar as cintas; são mais de onze. Lindão ele. É um grande fossador. Cava fundo como ninguém. Túneis enormes. A pegada é meio difícil porque sempre está em solo revolvido. Mas a da frente é uma unha em forma de vírgula e as de trás são três unhas grandes e ajuntadas.

E o bola? Ele é que se enrola todo, só três faixas nas costas, claro. Por isso é mais flexível. Todo tatu consegue fazê-lo, mas o bola é profissional. Ele é menorzinho e só vive em ambientes abertos. Come de tudo, um bom menino. Lá pelo Tocantins tem o tatuapara, perto da secura do Jalapão. Eu gosto do balançado dele andando, parece que dança um “reagge”...

Faltou o rabo-mole. Esse é o menos famoso do povão em geral. Mas tem sua graça. As costas não têm pelo e a barriguinha é amarelo-rosada. Um charme. O olhinho é bem pequenininho, igual ao da gente quando acorda. E o focinho comprido com a ponta quadrada. Não tem erro! Mas se de todo você tiver em dúvida, vá no rabo. É o único tatu que não tem placas na cauda. Por isso: rabo-mole. Mais noturno. Cava túneis em segundos, é o mais rápido de todos.

Eu não poderia deixar de dizer que o rastro do tatu galinha – galinha porque dizem que sua carne de cheiro forte parece com a da penosa – é bem típico. Dois traços finos e paralelos são as patas da frente – só que no chão ficam atrás- e três pontas finas e abertas são as garras de trás.

O tatu é o um bicho tão querido que virou o símbolo do Texas, lá nos Estados Unidos. Será que o estado onde você mora tem um bicho de estimação? E dentro de você, existe alguém habitando, enterrado bem fundo no seu coração?

JB Alencastro