Paca
“Paca”
Estou sem muita paciência, hoje. Resolvi passear pelo riachinho que fica perto daquela encosta. Lá longe eu vejo os buritis. É água boa. Esse tipo de mata chama-se vereda. Pertinho das nascentes. Quem sabe eu não encontro uma paca?
Aquele buraco ali, coberto de folhas é toca de paca. Certeza. Ela escava uns dois ou três, tipo respiradouro. É saída secreta. Uma lá embaixo, dá direto n’água. Submerso mesmo. Paca mergulha bem pacas. E nada também. Aliás, todo bicho que se preza deve saber teatro, nadar e discursar.
Ela me escutou. Mas não fugiu, sabe que sou amiga. O nome dela, na língua tupi significa sempre atenta, desperta. Provavelmente tem um filhotinho. Seus dois peitinhos só sustentam um bichinho de vez, nascem dois por ano, e demoram uns três meses e meio na barriga da mamãe. Olha lá! Eles saíram nadando, juntos pelo córrego. Um dos meus sonhos é poder nadar ao lado dos meus filhos. Coisa maravilhosa.
De salto em salto a paca chega aos pomares, adora frutinha caída. Também é chegada numa roça de arroz, milho, mandioca e cana. Mas não faz estrago, ela anda sozinha, diferente dos queixadas e das capivaras. Apesar do seu tamanho -a paca tem uns 70 cm de comprimento- ela é um animal tímido, assim; “de boa”.
Pena que está sumindo. A carne dela, dizem, que é a melhor de todas. Treinam cães para farejá-la e caçam-na impiedosamente. Eu fico fula da vida. Já existe gente que está criando para depois abater. É uma saída. Mas mesmo assim isso me revolta. A última vez que vi uma paca cercada eu fiquei fã dela. Deu umas mordidas na cachorrada e consegui escapar depois de ficar acuada uns 5 minutos. Saiu nadando, claro.
Pegada de paca é quase igual a da cutia, só que maior. E você não consegue encontrá-la fácil de noite, ela enxerga no escuro. Mas escuta melhor ainda e fareja legal. Sua impressão é bem forte, devido as unhas compridas. São quatro dígitos (dedinhos) na pata da frente e três na posterior. Dá uns 4-5 cm de comprimento e uns 4 de largura. A maioria da vezes as marcas ficam uma por cima das outras, sobrepostas.
Peguei uma caixa de areia e desenhei para nunca mais esquecer. Também já recortei cartolina e fiquei pintando por aí pegadinhas minhas. Um rastro pode ser de três tipos: se é o pé todinho, é plantígrado; se é só os dedos, é digitígrado; e se for de casco; ungulígrado. Qual é a sua impressão plantar? Qual é a sua pata? Qual número você calça?
JB Alencastro