Lobo-guará
“Lobo-guará”
Daqui de cima da árvore dá para ouvir de longe os gritos lá do cerradão. Guá-áá. Guá-áá. É o lobo-guará. Existe uma discussão enorme sobre se o nome dele é porque gane assim ou porque é vermelho. Isso eu não sei. Mas eu sei a razão da dor. Está com verme nos rins. Um nematódio gigante que impede ele de fazer xixi direito. Dói demais. O jeito é comer a fruta da lobeira, que melhora.
Andando aqui no meio do cerrado eu chego bem pertinho. É primavera, floresceu durante o inverno – se bem que tem aquela flor roxinha do miolo amarelo o ano inteiro - e agora os frutos estão caindo de maduros no chão. Lobo-guará adora. Também come araticum e uns ratinhos. Agora de manhã vai para a toca. Passei por lá, estão com três filhotinhos, pretinhos do rabo branco.
Todo lobo é do signo de gêmeos, pois só nasce em junho. Por isso é solitário e noturno. Muito curioso, se você mantiver uma distância de uns cinco metros ele fica ali, espiando. Gosto quando o vento bate na crina escura dele, fica elegante, contrastando com a cauda branca e combinando com as patas negras . É uma raposona de perna comprida. Apostei corrida com ele e perdi feio na subida. Mas também, com quase um metro e meio de comprimento e uns 70 cm de altura, o bicho é veloz. Mas na descida ele perde.
Ontem quase escrevi um poema. Sobre o cocô do lobo. É lindo de se ver. Eu explico, antes que vocês fiquem pensando bobagem. Seguindo as marconas dos quatro dedos bem fresquinhos no chão, facilmente você acha a titica do lobo. A pata dianteira é retinha e a traseira meio virada pra fora. E daí? E daí que inúmeras borboletas amarelas vão voando em volta. E besouros de casca dura, iguais helicópteros. Uma tropa de elite acompanha o bichão. E se olhar direito, verão ainda as impressões das garras. Embaixo estão as almofadas palmar e plantar. Animal digitígrado. Dígitos= dedos. Apóia nos dedos.
Muito fazendeiro mata o lobo. Acha que ele come bezerro. Mentira. No máximo uma galinha meio solta, ou um carneiro desgarrado. Mas é raro. O lobo vem diminuindo no cerrado. Mas se você quer achar um, basta seguir o rastro, aí vem as fezes com borboletinhas, depois a lobeira florida e por fim o grito do bicho. Ele estará lá debaixo.
Mas não fale alto e nem assuste o animal. Se ficar quietinho, você vai descobrir que ele não lhe fará nenhum mal.
JB Alencastro