"O PRÍNCIPE E O PLEBEU"
Debaixo de uma árvore frondosa o pequeno príncipe chorava convulsivamente. Um menino maltrapilho que brincava com um cãozinho na beira do lago ao vê-lo se aproximou e tocou-lhe no ombro:
- O que foi amiguinho, porque estás tão triste?
- Como ousa a tocar no príncipe!
- Perdão alteza, é que fiquei comovido ao lhe ver chorar
- Príncipes não choram
- Desculpe alteza, mas estão caindo lágrimas dos seus olhos.
- É que caiu um argueiro
- Posso ajudá-lo a tirar
- Não, não pode! O príncipe ficou de costas tentando enxugar as lágrimas com um lencinho bordado de dourado.
- Então vou indo
- Por favor, não vá, faça-me companhia, perdoe-me por ter sido tão rude. Deixe-me brincar um pouco com o seu cachorro.
- Ah! Claro, o califa é um amigão!
Eles sentaram na relva. O príncipe jogava gravetinhos para o califa pegar.
- No meu palácio eu tenho vários cachorros, mas nenhum deles é meu amigo.
- Você já tentou brincar com eles?
- Não, porque cães de guarda.
- Porque o príncipe está fora do palácio?
- Para encontrar a felicidade
- Mas a felicidade está em todo lugar
- Como você consegue ser feliz com tão pouco?
- Não precisa ter muito para ser feliz
- Mas o meu pai sempre volta feliz de suas conquistas, principalmente quando traz muito ouro. Eu fico muito triste, porque sei que para cada conquista há uma guerra. E quem sofre são os mais pobres. Eu não consigo ser feliz como o meu pai. Foi por isso que você me viu chorar. Ensina-me qual é o segredo da tua felicidade.
- Não há segredo, basta gostar de viver. Meu pai, certa vez me falou que o maior tesouro do mundo não e trancado à chaves; não é conquistado com guerras e é acessível a todos. E quem já o possui tem prazer em dividi-lo com os outros e quanto mais dar mais rico fica.
- E que tesouro tão valiozo é esse?
- É o amor. Ele está ai dentro do teu coração.
O príncipe ficou pensativo.
O silêncio foi quebrado quando o califa caiu na lama ao tentar pegar um gravetinho, os meninos riram muito com as atrapalhadas cãozinho.
Desde aquele dia os dois se tornaram grandes amigos. Mas o rei descobriu que o príncipe estava saindo do castelo para brincar com crianças pobres. Então deu ordens aos guardas para não deixa-lo sair.
E assim passaram-se os anos. O rei tirano morreu, o príncipe herdeiro tornou-se rei.
O povo o aclamava nas ruas porque ele era um rei bondoso e amigo dos pobres.
O reino prosperava sem que o rei partisse para terras estranhas em busca de ouro.
Foi um período de muita paz e harmonia.
Um dia, o rei cavalgava tranquilamente no busque, quando de repente um lenhador surge na sua frente. Apesar da barba enorme o rosto do homem era muito familiar.
- Como ousa a atravessar na frente do rei!
- Perdão majestade. O lenhador tirou o chapéu e baixou a cabeça em reverência.
Enquanto isso o rei desceu do seu cavalo e comovido aproximou-se do lenhador.
- Levante a cabeça homem. Sou eu quem deve reverenciar aquele que me ensinou o segredo da felicidade e que me deu uma grande parte do seu tesouro. Eu nunca me esqueci de ti meu amigo.
Os dois amigos se olharam por alguns segundos, como que quisessem resgatar o tempo perdido.
E a amizade entre eles foi selada para sempre num grande e fraterno abraço.