O ENTERRO DO SAPO - Cap. XII
Lamentou por não ter levado pregos e martelo e decidiu fincar os dois gravetos na areia, em forma de xis, justificando:
- “cruz de bicho é assim mesmo, diferente de cruz de gente”. Em seguida, recomeçou a chorar alto dizendo:
- “Ah! Meu amigo! Não tem ninguém da sua família aqui. Mas eu vou sentir a sua falta. Você foi muito importante! Você me emprestou dinheiro. Não tem amigo como você”.
Enquanto a irmã tecia elogios a Frederico Chinelo, Menina olhava em torno, incomodada com o barulho que os irmãos faziam. Justo no momento máximo do pesar de Liviva, ela ouviu um rugido vindo de uma moita localizada atrás da irmã. Preocupada, pediu à garota que chorasse mais baixo. Ela não deu importância e continuou o teatro. Menina pegou no braço de Zico e apelou pra ele:
_ Moço, fica quieto! Tem alguma coisa rugindo na moita atrás de vocês.
O garoto calou imediatamente e perguntou.
_ É o fantasma do Ludovico, é?
_ Não! Fantasma não ruge. Deve ser um monstro, um caipora...
Menina falava em voz baixa e Liviva continuava chorando. O rugido foi ouvido novamente. Zico levantou-se rápido e abraçou-se à irmã. Os dois sentiam medo.
O rugido ficou mais forte e se aproximava do lugar onde eles estavam. Dessa vez Liviva também ouviu. Agora era ela que fazia sinal de silêncio para os irmãos.
Menina olhava fixamente para a moita de onde provinham os rugidos. Desse modo ela viu os olhos verdes, maiores que os olhos do gato Paizinho.
Liviva levantou-se. Menina viu os olhos ameaçadores. Eles estavam plantados numa cara redonda coberta de pelos negros.
As três crianças deram-se as mãos e saíram dali em desabalada carreira. Correram sem olhar pra trás. Tudo o que elas queriam naquele momento era a proteção da casa e dos adultos.
Quando alcançaram a porteira de entrada da chácara, pararam para respirar. Liviva, ofegante, comentou:
_ Ainda bem que o bicho não veio atrás da gente.
_ Vai ver, ele preferiu comer o Ludovico primeiro, ou então... – Menina fez um ar de suspeita.