O ENTERRO DO SAPO  -  Cap. XI



alguns casulos que seriam usados como velas. Ao chegarem ao local, Liviva assumiu a cerimônia do enterro de Ludovico Chinelo. Começou dando ordens para os irmãos:

_ Menina, você e o Zico vão rezar. Eu vou cavar a sepultura e vou chorar.

Menina protestou. Disse que não sabia rezar e quis também saber o porquê do choro. Como nenhum deles havia visto um enterro, Liviva explicou:

_ Nos enterros as pessoas choram porque ficam tristes. É por isso. Mas o choro tem que ser alto.

_ E as flores? Pra que são?

_ São para alegrar o defunto e enfeitar o caixão - respondeu Liviva.

_ Mas pra que alegrar o defunto se ele está morto e as pessoas estão tristes? E pra que enfeitar? Se você vai enterrar, ninguém vai ver nada.

_ Ih! Também você que saber tudo, Menina! Eu não sei nada, só sei que é assim que as pessoas fazem.

Liviva terminou de cavar, pegou a caixa com o sapo e colocou dentro do buraco feito na areia. Após cobri-lo, ela colocou uma flor de abóbora sobre o montinho de terra. 

Menina não estava mais gostando de estar no areal e muito menos da brincadeira. O areal era fora do terreno da chácara e estava rodeado de mata fechada. Assim, enquanto a irmã fingia chorar alto e Zico rezava a Ave Maria que Siá Doninha lhe ensinara, ela ficou atenta aos rumores que vinham da mata. 

Liviva colocou um casulo de cada lado da sepultura para fazer de conta que eram velas.

Zico gostou de fingir que chorava e acompanhou a irmã naquele choro cada vez mais alto. Liviva disse que eles deviam ficar ajoelhados em volta do túmulo de Ludovico Chinelo. Menina preferiu ficar de pé. 

Tentando captar os ruídos da mata, ela usou as duas mãos como protetores de orelha. Desse modo, o barulho que os irmãos faziam não a impedia de ouvir os sons produzidos por animais. Principalmente os dragões, cuja existência ela só ficara sabendo na estória que o pai contara pra eles, na noite anterior. Tudo o que ela não queria era encontrar um dragão, principalmente o imenso dragão negro incendiário, que soltava labaredas pelo nariz.

A atenção de Menina retornou para Liviva que chorava como uma carpideira e só interrompeu o choro, por que se lembrou de que não havia feito a cruz para a sepultura. Liviva improvisou a cruz com dois pedaços de gravetos.
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 20/07/2008
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