A CIRANDA DAS BORBOLETAS
O pequeno José morava por ali, naquele vale panorâmico, cheio de borboletas que nunca despertavam sozinhas..
Logo cedinho, pelo bosque da mata ao derredor, já se ouvia o canto dos galos lá de longe... e os Bem –te-Vis a lhes responder o seu bom dia!
As maritacas nunca ficavam quietas, e com a festa, José e a demais vizinhança da floresta logo sabiam que já havia amanhecido.
Ao nascer do sol,as borboletas bocejavam preguiçosas, abanavam suas enormes asas coloridas e cirandavam pelas flores; os pardais acionavam seus vôos rasos e os Sabiás a todos cumprimentavam, maestros do canto das manhãs.
O aroma do ar sempre era dum mato verde, bem fresquinho.
Mas naquele ano o inverno estava muito frio, e as geadas calaram a floresta.
O sol parecia ter ido embora para sempre!
Tudo estava seco e congelado.
Nem um pio se ouvia. As borboletas recolheram as suas asas, e não se via nenhum colorido.
José estava triste, pois sempre iniciava a danças das borboletas com o som da sua gaita e agora já não tinha para quem tocar.
Certa manhã, José acordou com um sabiá na janela.
-Acorda , menino José!
-Sabiá laranjeira, o que quer você?
-Trago um recado urgente das borboletas. É para você tocar a gaita, menino José!
-Mas as borboletas congelaram, sabiá! Ninguém ouvirá a minha gaita.
-Obedeça , menino José! Toque a gaita, amanhã bem cedinho!
Então,naquela madrugada bem fria, José se encapotou todo, e escapou para a floresta.
Sentado sob uma figueira gigante, soou sua gaita pela alvorada.
E o tempo correu bem depressa...
As borboletas acionaram suas asas, e o espetáculo foi singular.
Sabiá laranjeira orquestrou a festança!
Os Bem te –Vis acordaram!
Os galos cantaram, as maritacas berraram, as flores se espevitaram, as árvores descongelaram...
E José despertou no centro duma ciranda de borboletas multicoloridas!
Abriu a janela...agradeceu ao sol e viu que, de novo, já era Primavera.
Nota do autor:
Dedico este meu conto ao recanto " SÍTIO DO PICA PAU AMARELO", o museu que conta a vida e a obra de MONTEIRO LOBATO, localizado na cidade de Taubaté, NO VALE DO PARAÍBA.
Na oportunidade de lá estar, li num de seus escritos expostos no museu, mais ou menos isto:
"PERDI MUITO TEMPO ESCREVENDO PARA GENTE GRANDE".
Esta frase me despertou uma forte emoção, E ME INSPIROU ESSE TEXTO, porque quem escreve sabe da força da literatura , e o quanto é mágico e "produtivo" voar para o mundo das crianças...
Quem já virou "gente grande", mas tem filhos e netos pequenos, eis uma boa oportunidade de mostrar-lhes a obra desse nosso gênio da literatura infantil.