Contos do King Arthur - O Fantasma de King Arthur
"Quando criança sonhava em ser grande,
Cresci, hoje quero voltar a ser criança."
King Arthur é o nome de um prédio que fica na cidade de São José dos Campos, a rua é Afonso César de Siqueira, número 212, o bairro é a Vila Adyana. Um bairro quase central, mas muito bem localizado.
O FANTASMA DO KING ARTUR
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Um certo dia, sem ter o que fazer, eu e Fernando resolvemos andar em volta do prédio, jogando conversa fora. Paramos nos salão de festa. Estava bem escuro, talvez alguma lâmpada queimada, e já era tarde, talvez quase dez horas. Eu percebi, olhando para o teto do salão, um fio fino de nylon transparente que estava esticado, uma ponta num lustre e outra em um outro lustre. Esse fio na penumbra era totalmente invisível, e isso nos deu uma grande idéia.
Eu corri para o quartinho, que ficava debaixo da escada, e peguei uma vassoura, e coloquei um prego pequeno na ponta da vassoura. Lá no salão, coloquei a ponta da vassoura, onde estava prego, no fio de nylon. O Efeito era claro, a vassoura parecia que estava flutuando no meio do salão, pois era quase impossível ver o fio e o prego.
Eu e Fernando ficamos debaixo da vassoura fingindo uma concentração ou algo telepático, e acrescentávamos alguns sons do tipo “A-HUMM – A-HUMM”. A nossa primeira vítima foi uma Senhora, não era moradora e não a conhecíamos. Ela passou distraída pelos corredores que ligavam o bloco A do bloco B, e quando ouviu os nossos ruídos de concentração, e olhou para a vassoura flutuando no meio do salão, levou um susto, vez o sinal da cruz, e apertou os passos. Rimos muito, e ficamos quase uma hora esperando a próxima vitima. Eram quase 11:30, e não houve nenhuma alma passando por lá. Era tarde e nossos pais já havia nos chamado. Fomos embora, e esquecemos a vassoura pendurada no fio, e só lembramos-nos dela no dia seguinte.
Eu fui o primeiro a ir ao salão, e verifiquei que ela não estava mais pendurada, e sim encostada na parede. Como quem não quer nada, perguntei para o porteiro se estava tudo em ordem. Pela afirmação positiva de sua cabeça percebi que não havia novidades. Pedi para o porteiro ligar para o Fernando, mas ele ainda estava dormindo. Logo comecei a ouvir os sinos derivados do molho de chaves do Seu Antonio ( o Zelador), anunciando a sua chegada. Era cedo, e o homem já estava reclamando da vida e de nós:
- Oceis quando for fazer bagunça, guarde-as. Pensa que eu não sei que foi você e o Fernando que pegou a vassoura e deixou jogada no meio do salão?
- Como assim jogada? Ela estava no chão?
- Onde mais estaria? Por um acaso vassoura avoa?
Eu ri, mas não dei uma resposta, como ele esperava. Pela conversa eu percebi que ele não tinha visto a vassoura pendurada no fio. Ela devia ter caído com o vendo.
Nós tínhamos a incrível capacidade de inventar histórias, de certa forma isso foi impulsionado logo depois que inventamos o mistério da vassoura voadora. Como éramos os mais velhos no prédio, isso é, fomos os primeiros moradores, começamos a criar histórias que nunca aconteceram.
Essas histórias sempre eram contadas aos moradores novos. Eles deveriam passar pelo ritual. Quando um menino se mudava para o prédio, nós o convidávamos para brincar. Fazíamos certa amizade e ficávamos conversando. No meio da conversa iniciamos a história do menino Artur, que morreu no prédio. A história era mais ou menos assim: Perguntávamos ao novo morador se ele sabia o porquê do nome do prédio. Sabíamos que ele não sabia. Então buscávamos o registro de moradores e mostrávamos o nome do primeiro menino que havia morado no prédio. Ele se chamava Artur. Fazíamos isso para dar mais veracidade a nossa história. Esse menino viveu lá, mas um certo dia ele caiu no poço de elevador e morreu esmagado pelo mesmo. O corpo desse menino foi enterrado no salão de festa e dizíamos que muitas vezes ouvíamos sons estranhos e fenômenos sobrenaturais acontecerem no prédio.
Muitas vezes a história tinha outro final. Artur já havia morrido tentando pular o muro para roubar goiabas do visinho, outra vez ele havia suicidado. Seu corpo já foi encontrado no quartinho, ou afogado na piscina. A sua alma já foi vista andando bicicleta a meia-noite, seu espírito já se possui um gato preto que vivia nas redondezas. Redemoinhos misteriosos apareciam na piscina durante a noite e vultos freqüentemente eram vistos atrás do prédio. Às vezes contávamos com tanta vivacidade que nós mesmos ficávamos com medo.
Por que estou contando isso aos leitores eu não sei. Realmente uma energia existia naquele prédio, algo bom, uma força que mudou a vida de muitas crianças, era a amizade e o gosto pela diversão. Não tínhamos tempo para os verdadeiros fantasmas que assombram nossos dias.