Contos do King Arthur - jogos e brincadeiras

"Quando criança sonhava em ser grande,

Cresci, hoje quero voltar a ser criança."

King Arthur é o nome de um prédio que fica na cidade de São José dos Campos, a rua é Afonso César de Siqueira, número 212, o bairro é a Vila Adyana. Um bairro quase central, mas muito bem localizado.

Inventando jogos e brincadeiras

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Estávamos todos contentes com a novíssima bola de baiseball que João Ricardo ganhara. Principalmente pelo simples fato de que uma bola dessas era uma raridade para nós, e nossa cultura tão acostumada com bolas de futebol.

Nós não sabíamos as regras do jogo, então inventamos um jogo para aquela pequena e pesada bola. O jogo era mais ou menos assim: Havia uma grade que separava a rua do prédio. A grade era a rede, a bola teria que passar por ela sem bater, pois bola na “rede” invalidava a jogada. Dois ficavam na rua, e dois ficavam dentro do prédio; um jogava a bola para o outro, e não podia deixar a bola cair no chão ou tocar na grade.

O problema dessa brincadeira era o peso da bola. Como era pesada, tínhamos que empregar no braço muita força, pois só assim ela alcançaria o destino proposto do jogo.

O jogo era divertido, e nos sentíamos importantes usando aquela bola importada dos USA, passamos três dias nessa brincadeira. Inventávamos gritos de guerra Ianques: Yes my baby!!!, Yahoo!!!, Come my Bony. Fernando e eu éramos lançadores, sempre mascávamos chicletes, antes de lançar a bola virávamos o boné dávamos uma cuspida no chão e atirávamos o balaço com o máximo de força possível, igual aos americanos.

Com o passar do tempo descobrimos que o legal do jogo era ver a bolinha subir para o alto, começamos a medir a força. Inventamos um novo jogo. Agora todos eram lançadores, todos mascavam chicletes e todos cuspiam no chão para lançar a bola. A nova regra era a seguinte:

Cada lançador jogava a bola em direção vertical do prédio. O objetivo era passar a rua, a grade o playground e bater no paredão, que era o prédio. A bola tinha que ir o mais alto possível e o jogador que jogasse mais alto era o campeão. Eram três rodadas para cada lançador. Como tínhamos problemas para marcar quem batia mais alto, pois não havia uma marca, e muitas vezes pareciam empates, resolvemos da seguinte forma: O jogador virava o boné, cuspia no chão, pegava a bolinha e passava no cuspe fazendo uma laminha, girava o braço três vezes e atirava. A bola ao bater no prédio deixava a sua marca, e assim resolvíamos o problema dos empates e deixávamos a pintura do prédio cheia de pintas, como um dálmata gigante. Fazíamos nossas disputas até cansar os braços. Quando isso acontecia, nosso rendimento caia, e dessa forma a altura do balaço também.

Certo dia, eu estava com minhas forças abaladas por uma partida fenomenal. A bola de baiseball alcançara comigo quase o sexto andar, a partir daí as força estava esgotada e logo foi decaindo andar por andar. Nessa descida de rendimento, eu atirei a bola e ela fez uma trajetória um pouco diferente. Ela acertou em cheio as placas que enfeitavam a entrada do prédio. Eram placas verdes, feitas de um material frágil, que ao contato da bola, se partiu, caindo no chão e se partindo em quatro pedaços. A frente do prédio ficou com uma falha visível, semelhante a uma criança que perdeu o dente da frente.

João Ricardo foi o maior prejudicado, a sua bola de baiseball foi confiscada. Realmente as nossas partidas de “KingBall”, o nome dado ao jogo que inventamos teve seu fim depois desse incidente. Ficamos sentados no gira-gira, meio que tristes sem ter o que fazer. O único que fazia alguma coisa era o Binho, ele ficava montando e desmontado a placa que eu havia derrubado, como um quebra-cabeça. Eram peças grandes e se encaixavam facilmente, mas era impossível colá-las. Binho sempre foi o intelectual da turma, muitíssimo inteligente e de uma praticidade incrível. Ele sugeriu uma brincadeira simples, esconde-esconde, era quase noitinha, uma hora boa para esse tipo de brincadeira, mas ele resolveu inovar a brincadeira. Ele disse:

- Pessoal a minha idéia e o seguinte: Ao invés de ter uma pessoa que conta até 50 e sai para procurar. Vamos ter uma pessoa que irá esconde esses quatro pedaços da placa em diferentes lugares. Os demais estarão no gira-gira esperando. A missão é achar as quatro peças e montá-las, formando à placa.

Inventamos mais uma brincadeira, o placa-esconde. Passamos quase toda nossas férias nessa brincadeira. Até as meninas começaram a brincar com a gente. Seu Antônio (o zelador) ficava de vigia, esperando a primeira vacilada nossa. A nossa sorte foi que todas as crianças se apaixonaram por essa brincadeira, até a filha do Seu Antonio, assim não éramos muito importunado por ele.

Com o passar do tempo, a placa foi se quebrando, e dificultando a brincadeira original. Até tentamos quebrar outra placa para termos peças novas. Por fim, as pequenas peças foram se perdendo e se deteriorando, assim a nossa brincadeira foi se desgastando.

Mas sempre havia mais brincadeiras ...