Contos do King Arthur - Festas

"Quando criança sonhava em ser grande,

Cresci, hoje quero voltar a ser criança."

King Arthur é o nome de um prédio que fica na cidade de São José dos Campos, a rua é Afonso César de Siqueira, número 212, o bairro é a Vila Adyana. Um bairro quase central, mas muito bem localizado.

FESTAS

Existe algo que mais chama a atenção de uma criança do que festas. Agora imagina uma festa em seu prédio e você não é convidado? Isso é a maior afronta que poderia existir, pelo menos isso é o que achávamos.

O salão de festa do King Arthur estava no corredor que ligava os dois blocos e havia janelas transparentes, ou seja, qualquer um que passava via que teria uma festa. Quando qualquer um de nós via uma festa sendo preparada, ligávamos para os outros e ficávamos rodeando o salão até os donos da festa tomar conhecimento da nossa existência. Isso, na verdade nunca funcionou, sempre tínhamos um plano B. Após os rodeios, íamos até a porta do salão de festa e com um gesto de amizade (cara de pau), oferecíamos para ajudar a encher os balões. Esse sempre funcionava, principalmente para moradores novos que não nos conheciam.

Ficávamos na maior boa vontade enchendo as bexigas, e no final do trabalho recebíamos o nosso almejado salário, éramos convidados para a festa. Bastava convidar um que a turma toda participava, pois pegávamos os salgadinhos, doces, refrigerantes e bolo e levávamos para todos, inclusive para os nossos pais.

O truque da bexiga nem sempre funcionava, pois alguns moradores, que já nos conhecia, faziam questão de não nos convidar. E isso era problema? Claro que não, participávamos do mesmo jeito. O plano C, era argiloso, usávamos de chantagem para com as crianças que eram convidadas. Isso era fácil, pois tínhamos muitos métodos para amedrontar os menores. O caso mais engraçado era o medo que Thales, 5 anos na época, tinha do quartinho que ficava em baixo da escada. O menino tinha tanto medo que fazia de tudo para não ficar trancado lá. Então dizíamos: “Thales, pega bolo e salgado para gente”, ele já sabia que se não pegasse o seu medo seria realidade. Dessa forma participávamos da festa em todos os sentidos.

Foram muitas festas que fomos convidados, e fazíamos questão de participar com toda as nossas forças e estômagos (cada um tinha um estomago duplo). Éramos os primeiros a chegar, e ficávamos perto da mesa dos salgados, ou das pessoas que estavam servindo a comida. Mas o ataque de maior importância era nos brigadeiros e outros doces. Bastava apagarem as luzes para o parabéns que a mesa ficava completamente nua de doces, por outro lado, nossos bolsos transbordavam. Pobre de nossas mães que tinham que lavar as nossas calças meladas.