UM AMIGO DE PESO
A floresta estava invadida por um barulho ensurdecedor.
— Arrroouuto, Arrroouuto, Arrroouuto…
O tatu galinha irritado viu o urso pardo e perguntou-lhe:
— O que é isso?
E o urso pardo sonolento:
— Não faço a menor idéia. Me deixa dormir em paz.
E o barulho tomava conta da floresta:
— Arrroouuto, arrroouuto, arrrooouuutooo.
— Como consegue dormir? Não te incomoda essa barulheira?
— Você é que esta me incomodando. Eu quero dormir!!! Pergunte para a onça preta de onde vem ou o que é isso.
Ele não teve dúvida, foi direto ao seu encontro. E o barulho era insistente.
— Arrroouuto, arrroouuto, arrroouuto.
Aquele, sim, era uma coisa por demais terrível, apressou o passo, e rapidamente a encontrou dormindo no alto de um galho com as patas balançando ao sabor do vento.
— Onça, onça, onçaaa!!!
— O que é? Porque esta gritando?
— Não esta ouvindo?
E o som ecoava na floresta.
— Arrroouuto, arrroouuto, arrroouuto.
E a onça preta:
— Essa é boa, você se incomoda e vem me incomodar. Dá licença e me deixa em paz.
— Eu só quero saber que barulho e esse?
A onça preta dá uma despreguiçada e olha bem séria para ele e diz:
— É o glutão.
— Glutão? Quem é, não conheço, alias nunca ouvi falar, como ele é? Tem pêlo, pena, escama.
— Às vezes tem.
— Como assim? Ou tem ou não tem!
E agora o arrroouuto era acompanhado de ah, ah, um, ug, e bem alto. O tatu galinha, coitado, sentiu que a onça preta estava curtindo com a cara dele, pois não poderia existir nenhum bicho que pudesse ter pêlos, penas ou escamas, olhou sério para ela e perguntou:
— Chegou bicho novo aqui na floresta?
— Claro! Olhe atrás desse arbusto lá na lagoa.
— É ele?
— Talvez!
O tatu galinha estava louco para desvendar o mistério, não pensou duas vezes saiu em disparada, quando chegou, não viu nada só uma pedra gigantesca, sem pensar, pulou em cima e quase morreu de susto quando ela falou:
— Sai de cima de mim, folgado, sem educação, onde já se viu!
— Me desculpe, quem é você?
— Não tá vendo?
— Não estou entendo nada, nunca vi uma pedra que se mexesse e falase. Você é o glutão?
— Você é demais mesmo! Nem me conhece e já está incomodando. Subir em mim, é no mínimo um abuso. É claro que não sou um glutão.
Disse isso e começou a se levantar. O tatu galinha nunca tinha visto nada igual e se afasta as pressas com receio de ser esmagado. Ele era gigantesco!
— Então quem é você?
— Ora essa, seu chato, não tá me vendo, sou um elefante africano o maior que existe.
— Como você pode ser tão grande?
— E como você pode ser tão pequeno?
— Porque eu sou um tatu galinha.
— A resposta esta dada. Já que me acordou, o que quer?
— Só queria saber se você conhece um glutão?
Ele olha o seu novo amigo curioso e o coloca em cima de uma pedra com sua tromba. Fez isso com um jeitão tão bondoso e amigável que o tatu galinha deixou e respondeu:
— É claro que conheço!
— E como ele é?
— já vi com pelos pretos e também um outro de penas brancas.
O tatu galinha levantou suas orelhinhas e ficou atento, pois desconfiava que tinha arranjado mais um para curtir com a sua cara, e se perguntava como ele poderia ter pelo preto ou penas brancas, seria possível? Ou talvez escamas ai sim seria demais, mas também nunca tinha visto um gigante como seu novo amigo, e perguntou:
— Era grande?
— Era não, é!
— Então existe?
— É claro! Vem comigo que eu vou lhe mostrar.
— Eu não consigo te acompanhar.
— Isso não é problema!
O elefante africano se abaixa e estende sua imensa tromba, para que o seu amiguinho pudesse subir. E o tatu galinha vendo a gentileza do amigão concorda e sobe.
— Segure-se, pois o expresso elefante esta de partida.
E saiu dando urros de alegria com o tatu galinha agarrado a sua cabeça como podia naquele gigante, que corria e pulava a todo galope estremecendo a floresta com todo seu peso...
E a onça preta levantando as patas para apoiar preguiçosamente a sua cabeça sobre elas, perguntou:
— É um terremoto?
E o urso pardo esfregando suas costas na relva macia.
— Claro que não, é um vulcão.
Ai, falou o garboso lobo guará:
— Nada disso, é o elefante africano em disparada.
E a cobra coral enrolada em um arbusto perguntou:
— Para onde?
E a onça preta se acomodando novamente no galho com um ar de riso em sua cara.
— Carregando o tatu? Só pode estar indo lá no glutão.
Os outros animais que viram o tatu galinha irritado com o barulho, dispararam a rir rolando na relva, ate a onça preta ria em pé sobre o galho para ver passar um elefante a galope com um minúsculo tatu em busca do glutão.
E o tatu galinha, se equilibrando como podia, perguntou para o elefante africano:
— Cadê ele?
— Está aqui.
Fez isso freando seu corpo imenso com suas patas dianteiras e abaixando as traseiras. O tatu não podia acreditar que tinha enfim encontrado um glutão. Ai o seu amigo dobra as patas dianteiras e levanta as traseiras esticando a sua tromba para que seu amiguinho pudesse descer. O tatu quando viu o caminho para o chão desce brincando até um monte de areia que tinha se formado com a freada do elefante e pergunta:
— Onde esta ele?
— Bem na sua frente.
— Mas aqui, só tem uma pilha de casca de banana.
— Esse é o glutão!
— E desde quando casca de banana faz barulho? Vocês estão a fim e de me gozar.
— Preste bastante atenção no que esta vendo, veja alem do que vê.
— Vim até aqui para ver casca de banana?
Falou isso e resmungou baixinho, veja alem do que vê, veja alem do que vê, estão é me gozando isso sim, aqui não pode ser é só casca e mais casca, alias quanta casca?
E quando menos esperava.
Arroouuto, e uma bronca:
— Sai de cima de mimmm... Arroto... seu folgado... arroouuto... não está me vendo?
O tatu galinha ficou espantado e se pôs a escavar mais rápido o monte de casca e de repente descobriu e gritou estupefato:
— É o macaco bugio arrotando de tanto comer!
E na mesma hora surgiram de dentro da mata o urso pardo, o lobo guará, a cobra coral e a onça preta falando em coro:
— Um glutão que come mais do que da conta.
O bugio envergonhado tenta se desculpar, mas com aquela barriga imensa não consegue nem mesmo se levantar. O elefante africano se vira para o tatu galinha e lhe pergunta:
— Satisfeito? Contente com a descoberta?
— É, este tem pêlos, egoísmo e gula. Mas contente eu fiquei por ter descoberto um gigantesco amigo.
Ele abraçou a pata do elefante africano, que emocionado se abaixa e estende sua tromba e diz:
— O expresso elefante está de partida e exige que você suba meu diminuto passageiro e maravilhoso amigo.
E saíram a galope sacudindo a floresta de tanta felicidade até a próxima aventura.
TiO DiMiTRi