O casamento do barato com a barata
O barato e a barata
Resolveram se casar
A barata tão bacana
O barato cara de pau
A barata comprou meia
Camisola de algodão
Comprou bobe, comprou pó
E comprou lindo roupão
O barato nada tinha
Também nada comprou
Era barato casca grossa
Da oficina do vovô
A barata animada
Com o noivo trabalhador
Agradava-o de todo jeito
Demonstrando-lhe muito amor
Fazia bolos com recheios
Fazia agrados e devoção
Fazia-lhe muitas cócegas
Fazia com animação
O barato nada fazia
Além de receber agrados
Chegava todos os dias
Nos horários combinados
Não lhe levava flores
Não lhe fazia declaração
Comia e bebia tudo
E saia sem fazer sermão
No dia do casamento
A barata na igreja
De vestido branco longo
Parecia uma princesa
Quando viu lá no altar
Que o seu noivo barato
Não havia penteado o cabelo
Nem banhou tinha tomado
A barata paralisou
Tremendo dos pés as mãos
Não conseguia seguir em frente
Foi grande a aflição
A barata desmaiou
E armou a confusão
O barato muito calmo
Ficou logo sem ação
O nariz escorrendo
A calça suja de graxa
E o terno tão pequeno
Não cabia no barato
Não sabia o que fazer
Quando viu sua noiva
Entre flores e coisas
Aos poucos desfalecer
Pegou a água benta
Do altar da igrejinha
Veio então trazendo
Para acordar sua noivinha
No meio do caminho
Tava armada a confusão
Quando com um escorrego
A água toda veio ao chão
Molhando todo o vestido
Da barata toda faceira
Que a amiga dona aranha
Tinha tecido todo em teia
Molhou também o penteado
E também a maquiagem
Molhou todo o rosto
Escancarando a verdade
A barata em pirepaque
Abriu logo o berreiro
Desfazendo o casamento
Ali mesmo no terreiro
Não iria se casar
Com um barato casca grossa
Que não tomava banho
Nem usava roupa nova
Não tinha água de cheiro
Nem tinha nenhum tostão
Era muito desajeitado
E feria seu coração
O barato desiludido
Saiu triste da igreja
E ao atravessar a pista
Foi grande o atropelo
A sola do sapato
Do velho sapateiro
Acertou-lhe de cheio
Esmagando-o por inteiro
Não deu tempo de socorro
Para o barato casca grossa
Foi pego de surpresa
Por essa vida tão tinhosa
Estirado ali na frente
Da barata melindrosa
Olhando-a nos olhos
Implorava a nobre senhora
Desculpas por tudo isso
Que tinha feito ela passar
Talvez numa outra vida
Pudessem se encontrar
A barata tratou logo
De entrar para o convento
Nunca mais quis saber
De história de casamento.