A BOA MORTE

A M.P.

--- Quem passa por aqui? --– A Boa Morte

--- Por que boa se matas? --- Não, não mato

--- Que vieste fazer? --- Queimar-te todo

--- Como queimas? --- Com tua permissão

--- Depois fazes quê? --- Levo-te daqui

--- Levas-me aonde? --- Levo-te ao inferno

Isto, chamamos nós de Boa Morte,

Pois não nos mata, só conduz ao fogo...

Rommel Werneck

04 de outubro de 1554

Notas do autor:

Inicialmente, queria fazer uma releitura deste soneto ilustre de Camões, mantendo a forma fixa italiana, mas mudando o tema para amor. Com o andar da liteira (carruagem é muito séc XIX!), preferi uma forma fixa atual, o indriso é o poema mais contemporâneo que existe, portanto, meu plano foi criar algo ultramoderno mas com fortíssimo retorno ao Maneirismo. Que anacronismo!

A métrica adotada foi o decassílabo com doses de pentâmetro iâmbico em alguns versos para ser mais fiel ao período histórico. Em contraponto, versos brancos para o anacronismo já comentado e também focalizar o ritmo nas perguntas, no conteúdo mesmo além de servir de exemplo de versos isométricos, mas sem rima.

Infelizmente, muitos poetas contemporâneos acreditam em divisões estabelecidas, por exemplo, "versos com métrica (sic) tem que ter rima ou versos (sem métrica) não podem ter rima". Isto nos leva a um reducionismo, uma restrição do que pode ou não fazer, sendo que precisamos buscar conhecer as várias alternativas possíveis, por exemplo, versos livres rimados, decassílabos sem rima, heterométricos rimados e brancos etc etc. Obviamente, a temática e outros aspectos também precisam se libertar desse puritanismo do Modernismo.