Fendas
em todo poema
existe uma fenda profunda
uma luz imaginária
um banco de areia
onde um barco encalha
eu, sempre tão cautelosa
sempre tão prudente
aqui estou, à beira mar
de onde não partem ninfas
nem regressam astros
nem sequer faunos se avistam
empunhando tridentes
aqui estou, exausta, descalça
sozinha, desgrenhada
olhando o horizonte
fio de Penélope
decaído no Oriente
na fenda do verbo
no fundo do mar
na solidão a me maltratar...