Minhoca madrugadeira

O Tunico fazia bem uns cinco anos que não dava um teco nalguma miguelita pelai.

Pudera! Era um feio de carteirinha. Rapais, o trem era feio!E olha que eu também sou meio despossuido. Mas, perto dele, que Santoro o quê! Galã das sete! Daqueles da mulherada fazer fila pra ser jantadas.

Um metro de meio de altura. Magrelo, nariz a la Luciano Hulk, os zóin cinco pras três. Tipo do cara que se bobear é contratado pra assustar casa abandonada, mole, mole.

E pobre. Daqueles de marré, marré, marré! Salarinho furreca numa transportadora de valores, ensacando a granaiada dos outros.

Fosse rico tudo bem! A feiúra deixava de ser na hora.Olha os mulherão que o Fenômeno traçou antes de enveredar pelos caminhos espadis. Espia o outro Naldinho, o Moniquinha e os filés que rangou na maior. O Charles Bronson não comeu a Jill Ireland, aquele tesãozasso? O Onassis a Jackeline? Vocês não viram na Net a mulher daquele carecão do Lost? Mulheraço!

Agora o Tunico?

Coitado, pagando em dez suaves prestações a ponte móvel no Dr. Dentini pra deixar de ser 1001!

Outra solução para feios de plantão não ficarem eternamente no cinco contra um é papo. A cara não ajuda? Conversê resolve.

Eu mesmo nos velhos tempos, mais novo e menos casado, porém feio ainda, ranguei muito filé, muita picanha na pura conversa. Teve até uma fulana que mais tarde confessou às amigas que “ não agüentei mais tanto papo! Quem sabe agora ele desencana!”

O “ele” no caso em questão era eu!

E vale tudo! Já rodei com carro emprestado jurando que era meu. Já tive fazendas no Goiás e Mato Grosso do Sul. Pra terem uma idéia: fui até compositor do É o amor, do Zezé de Camargo.

Só que até nisso o Tunico era capenga.

Também, se não estava na igreja pedindo a Deus que lhe arranjasse uma mulher, estava nos botecos da vida enchendo a cara porque Ele não tinha trabalhado direitinho. Que papo maneiro podia ter para arrastar uma dona para o mocó? Nenhum.

Foi aí que o Zunga se condoeu.

“ Gente- desabafou no bar para os amigos de pingaiada – o cara ta pirando! Esse treco de ficar sem mulher é meio complicado.- continuou:- Maginem que noite dessas ouvi um barulho, saí pé ante pé e lá tava ele no quintal.Tinha feito um buraco no tronco da bananeira e só no fuc-fuc. Saí de fininho e fiz que não vi.”

Claro que todo mundo riu.

“ Não é caso pra rir não! O cara trudia chamou a Hebe Camargo de tesão! Nem caroço de manga merece isso!”

O que tinha a ver caroço de manga com tudo aquilo ninguém entendeu.

Ah! E vocês que estão lendo não vão pensar besteiras à respeito do Zunga não! Tipo achar que ele gostava do Tunico, coisa e tal. Maginar boiolice na jogada. O Zunga sempre foi macho, nunca deu laceada no anel de couro não!

Acontece que era casado com a Jussara, irmã do mafaguifo e foi por isso, dó do cunhado, que ele e o Ditinho combinaram de levar o Tunico na zona da Cotinha.

Dito e feito!

Antes chamaram a Mineira, a melhorzinha, de lado, perguntaram o cacife – Trintinha- pagaram cinqüenta, só prela dar um cardo legal no desprovido.

- O cara ta maus! Então se vire, minha amiga! Barba, cabelo, bigode e sobrancelha. – sugeriram.

- Ah! – o Ditinho deu mais uma dica preciosa. – E chama de meu amor, diz que nunca deu pra outro mais gostoso, que ele é o homem da sua vida. Se tiver coragem até uns beijinhos de língua!

A Mineira espiou o Tunico, suspirou fundo, pensou no sacrifício, pensou recusar, mas estava duranga de dar dó. Por isso pediu mais vinte.

- É só escorrer mais duas de dez que o amigo de vocês vai sair daqui imaginando que é o Santoro.

Trato feito, trataram de tomar umas cervas a cinco paus cada uma enquanto o amigo ia para o matadouro putal.

Coisa de meia hora depois descobriram que a profissional tinha caprichado no ego tunical.

O mafa saiu de braço dado, sorrisão 1001 escancarado, na saída deu uma passada de mão na bunda da Cotinha, que chiou mas ficou na dela, bateu no ombro dum outro feioso que estava ali pro que desse ou viesse, tomou um resto de cerveja que tinha no fundo da latinha e foram embora.

Os dois cafetos felizes pelo dever cumprido, o Tunico mais ainda por finalmente ter desencravado o pus da verruga. E sem as mãos!

- Eu bem que avisei! – falou o Ranulfo, nosso filósofo-mor, sempre no Bar do Canguru. – Deus ajuda quem cedo madruga! Galinha que acorda mais cedo come a melhor minhoca. Mas e a minhoca que levantou mais cedo? Si fu? Ou devia ter perdido a hora?

Só que essa filosofada de araque tinha nada a ver com a confusão que deu, quando a bosta fedeu para o lado do Zunga, na quarta-feira.

Adiante demais, né? Vocês leitores devem estar mais perdidos que surdo mudo em filme dublado. Ou grilo em galinheiro sem comida.

Voltemos!

Na quarta, voltando para casa depois de um trampo sinistro, com direito a dois caminhões carregados de tijolos e uns trinta sacos de cimento na batida de reboque, o Zunga encontrou Dona Corina, sua sogra e a Jussara com cara de onça tepemada, tentando conter o Tunico, beudinho, beudinho querendo trazer a Mineira pra morar de vez com ele.

“ Ela falou que sou o homem da vida dela! Disseu que me amava de paixão e fui o melhor sujeito que comeu ela! – dissera pouco antes.

- E onde mora essa bendita mulher? – tinha perguntado a Jussara morrendo de dó do irmão e torcendo que ele desencalhasse duma vez.

“ Na chacra que o Zunga me levou sábado.” E mostrava a direção da zona da Cotinha.

Bem, depois de muita conversa conseguiu ser convencida que era tudo papo de beudo que não tem nada pra fazer ou delirium tremens em estágio inicial, mas deu um trabalho dos infernos.

Bem disse o Ranulfo mais tarde, consertando o dito sem sentido nenhum de antes: - A minhoca, de tanto ajudar os outros, acabou sem perninhas!

Quem ouviu ficou pensando se não era outro bicho. o do ditado. Não era um passarinho? E tinha a ver com rabo?

Nickinho
Enviado por Nickinho em 19/05/2008
Reeditado em 20/05/2008
Código do texto: T996721