O lacônico Vicente
O meu irmão Vicente era famoso pela preguiça, inclusive para falar. Uma noite, estávamos ouvindo por um rádio de um bar a narração do jogo Brasil X Argentina, pelo Campeonato Sul-Americano de 1959. Encostados ao balcão do bar, estavam eu, Vicente e mais um rapaz. De repente, um colega desse rapaz deu-lhe um forte tapa na cabeça e escondeu-se rapidamente por trás de mim. Todos vimos, eu fiquei sério, mas Vicente ficou sorrindo de modo bonachão. O rapaz, achando que tinha sido Vicente que lhe dera o peteleco, encarou-o com raiva e durante alguns minutinhos travaram o seguinte diálogo:
O rapaz: Eu te conheço, cara?
Vicente: Não.
O rapaz, de novo: Eu te conheço, cara?
Vicente, de novo: Não.
Como a coisa ameaçava terminar em porrada, o autor da brincadeira levantou-se e falou para o zangado rapaz, que já encarava Vicente com ar ameaçador:
- Ei, cara, te acalma, fui eu que te dei o cascudo!
Todos sorriram, voltamos a escutar o jogo, mas eu fiquei com raiva. Chamei Vicente para um cantinho e perguntei-lhe, irritado:
- Por que não disseste logo para aquele idiota que tinha sido o colega dele que lhe dera o peteleco?
- Não podia.
- Não podia, por quê?
- Porque o que ele estava perguntando para mim era se eu o conhecia. E eu estava respondendo que não...