ELE & ELA

Deparar-se com um banheiro público, naturalmente sem o aviso FECHADO PARA REFORMA afixado na porta, é o sonho de qualquer mortal naquele instante crítico da precisão.

Na qualidade de simples mortal (até prova em contrário), eu também sonhei outro dia com um WC, pelo amor de Deus! O da praça estava interditado à visitação pública. Então pisei fundo o acelerador e, duas ou três infrações depois, estacionei onde não deveria, não tranquei o carro como deveria, e rumei em disparada prédio adentro.

O corredor da esquerda, segundo o rapaz das Informações, me conduziria ao paraíso. E os dois minutos que se seguiram são um hiato na minha vida.

Já dono de mim, ao deixar o reservado... Perplexidade! A três passos, ou nem isso, uma jovem utilizava o lavatório. Meu Deus! Havia entrado no toalete feminino! Nem por milagre alcançaria a porta de saída sem ser notado. O jeito então foi pegar uma vassoura, deixada a um canto, e tentar me passar por faxineiro. A esse gesto, a garota deu meia volta e me surpreendeu ali, trêmulo, olhos arregalados e de vassoura na mão. O grito dela foi ensurdecedor...

Diante de um segurança, que fora atraído pelo espalhafato, logo me transformei de vilão em vítima, depois de ter mais ouvido do que falado. Eu explico: a moça é quem havia invadido território proibido.

Resolvido o impasse, sentia-me estranhamente leve, entre alegre e satisfeito. Talvez pelo desfecho a meu favor, ou, quem sabe, por ter descoberto que contratempos fisiológicos não constituem privilégio masculino.

O certo é que em breve o incidente já era coisa do passado. Ofereci à moça uma carona e fomos, juntos, desfrutar o nosso alívio...

Dorival Coutinho da Silva
Enviado por Dorival Coutinho da Silva em 04/05/2008
Reeditado em 19/05/2011
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