MEUS ONTENS...
Hoje eu acordei pensando nos meus ontens. E bota ontem nisso! Milhares de ontens. Ainda meio sonolento... domingo...acordei olhando para trás. Olhando, como é que eu consegui isso? Isso de sobreviver tantos anos, tantos domingos, com poucos arranhões, poucas quedas e nenhum, que eu lembre, nenhum inimigo! Pelo menos até agora... ninguém se declarou meu inimigo. Como é que eu consegui isso?
Alguns vão dizer: é a vontade Dele. Pode ser. Outros vão afirmar que é o meu destino. Será? Já está traçado, dizem. Que coisa chata! Parece vida de servidor público de cidade do interior do Piauí. Chato! Não gosto nada de pensar assim. Outros até vão jurar que eu mesmo é que tracei o meu papel neste mundo. Duvido. Se fui eu mesmo, acho que vacilei muito! Se fui eu mesmo que tracei previamente todos os ontens de minha vida, eu sou uma besta! Podia ter pensado em dias mais glamurosos e cheios de mulheres idem! Se fui eu que publiquei meu destino, fui um incompetente de marca maior. Eu não faria isso comigo. Gosto de mim. Até tenho ciúmes de mim mesmo! Não, não fui eu que fiz isso comigo! Não sou brilhante, mas não faria isso comigo.
Acho que meus ontens, todos eles, foram escritos pelos meus anjos de guarda. É. Acho isso! Foram os meus anjos de guarda. Com o "de" e não "da". Dezenas ou centenas deles. Cada um no seu plantão.
Porque acho que aconteceram plantões. Muitos plantões. Anjo da guarda deve ser um cargo celeste. Talvez nomeados por um concurso celestial público às avessas: quem não passa, pega vidas chatas e bobas. Só pode. Senão, como explicar ontens tão desiguais, tão díspares? A única explicação para esta tese é esta: se foram mesmo meus anjos-segurança, anjos-preceptores, anjos-guia, anjos de guarda, o que for, acho que foi obra de muitos anjos. Só pode.
Esta é a teoria que mais me agrada, porque é a única que explica porque alguns ontens foram tão maravilhosos, que eu queria muito repetir todas as semanas. Até hoje! Outros, não deveria nem ter acordado naquele dia. Só mesmo obra de autores diferentes. Anjos de guarda reprovados em concurso elaborado por uma Cespe do Céu. Iche! Só isso explica quase tudo. Anjos da guarda, servidores públicos celestiais.
Alguns até competentes. Anjos autores de roteiros de ontens maravilhosos. Ontens de um roteiro irretocável, Bergmaniano, Cecil B. De Milliano ou Disneyniano. Anjos metidos a intelectuais, responsáveis por roteiros de dias Glauberianos, ou Goddardianos, incompreensíveis. Anjos outros, que cometeram ontens da minha vida, que mais parecem terem sido roteirizados pelo Zé do Caixão! Outros, pelo Mazzaropi! Argh! Ou pela Marlene Mattos! Bleargh!
O fato é que hoje eu acordei. Acordei mais ou menos inteiro de corpo e menos do que mais de alma. Mas acordei. Pensando nos meus milhares de ontens. Nas dezenas de aniversários vividos. Como hoje. 57 anos cheios de ontens! Aniversários maravilhosos e outros nem tanto. Hoje, 27 de abril, pelo que estou vendo, até agora, o anjo de plantão parece ser um cara legal. Não parece ser petista: sabe das coisas! Parece não ser dado a nenhum arroubo intelectuóide. Parece não querer imitar nenhum autor de novelas mexicano. Até agora, tudo bem. Acho que poderei lembrar de ontens até amanhã.