Foi necessário, para que coubesse
folga na repartição e O Poeta folh
eava seu jornal cotidiano ligeiram
ente enfastiado, como era praxe
entre os Poetas fin de siècle e d
e millenaire, quando nada mais p
oderia acontecer e no entanto o
s encargos sociais obrigavam às
Personalidades a. E naquele sofi
sticado estado de espírito chego
u ao Caderno de Variedades. Se
ntiu um soco no peito e o rosto
afogueado e tremores nas perna
s e uma repentina dilatação das
pupilas e do espaço circundante
e que o chão fugia sob seus pés
, expressões estas caras aO. Al
i, naquele momento prosaico, pr
eto no branco: seu nome literári
o, a capa do Seu Livro, o logotip
o da Editora e uma resenha. E n
o primeiro instante não acertou
a. O impacto foi mais contunden
te ao perceber que a assinatura
não era a do seu compadre jorn
alista, mas a de um crítico renom
ado, do qual Todos queriam uma.
E passada a surpresa, admitiu qu
e aquilo era O. E abandonou a m
esa da cozinha e foi até a sala e
se espalhou no sofá de três luga
res. Apanhou o Cachimbo das Gr
andes Cerimônias e o encheu co
m seu melhor tabaco e de esguel
ha contemplava-se no espelho. F
oi com voz grave que solicitou à
esposa que lhe trouxesse os sap
atos, pois os chinelos. A mulher d
isse que as solas dos pés no coc
uruto lembravam uma postura iog
ue, mas ela estava cansada de s
aber que O Poeta nunca. (Amava
a Tradição, a Forma, a Pureza e
a Higiene na Poesia, diria seu ep
itáfio.) E disse que seu olhar exp
ressava textualmente (sic) a vo
ntade de ficar de pé sobre aquel
e pedestal. A fratura no pescoço
, com seqüêlas anatômico-lingüís
ticas, teria sido a causa mortis, s
egundo deu a entender o. Foi nec
essário retalhálo para que coubes