Orgasmo 5,2
A Tininha estava passando férias no litoral. São Vicente, pra ser mais exato.
15 dias vendidos pra firma mais os 30 por cento de lei mais umas economias forçadas e lá foi ela. Apartamento da irmã vazio, geladeira cheia, praião perto, que mais se poder querer?
Um namorado, é claro!
Que toda mulher quando se imagina na praia pensa num clone do Rodrigo Santoro saindo da água, dando aquele olhar 43, um sorrizinho malicioso, uns amassos na areia. . . Peralá! Eu disse amassos na areia?
Quem disse que isso é gostoso nunca, mas nunca mesmo praticou a arte. Nos filmes e novelas é bonito, é romântico as ondas chegando de mansinho molhando os corpos excitados, o sol se pondo lentamente na linha do horizonte, uma musiquinha suave dando o contraponto. Mas na vida real? É um tal de vendedor de pamonha enchendo o saco da gente; cachorro mijandoempurrando a catinga no nariz da gente; água gelada; céu fechado ameaçando chuva( e como chove em cidade litorânea); crianças de nariz melequento chupando sorvete; muriçoca mordendo a bunda da gente e areia.
Carai! A areia da praia entra em todos os nossos orifícios. Mesmo os mais recônditos e escondidos. Maginaram dois órgãos sensíveis se esfregando com areia no meio? Pois é!
Foi quando conheceu o Marcão.
Não se podia afirmar que fosse um homem feio, mas sendo sincero, pra chegar a um vigésimo do Santoro, haja plástica! Mas nem o Pitanguy fazendo hora extra e dando tudo de si ia aproximar.
Como diria o Ranulfo, filósofo de plantão, eternamente no Bar do Canguru: Pra quem tá morrendo afogado, qualquer tronco é tronco. Nem se tiver cheio de formigas!
E cá entre nós, a Tininha não tava lá essas coisas também. Trintona, umas celulitizinhas nas coxas, umas tetas meio murchinhas, não pensou duas vezes, tratou de se garantir com o Marcão mesmo.
Conversa vai, conversa vem, ficou de passar no apartamento lá pelas 8, oito e meia.
E foi, é claro!
A Tininha era uma mulher séria.Foi por isso que não entregou de primeira o ouro na bandeja . Um jantarzinho romântico antes, uma namorico no sofá, uns “devo estar louca por fazer isso” e depois, só depois partiram para o crime total.
Quando ela viu o mocorongo pelado tratou de fechar os olhos e imaginar o Fábio Assunção, mas a luz semi-apagada, o clima e o tesão explodindo dentro de si anulou o restante dos inconvenientes.
Começou chocha a pandigônia. Insira Pino A no orifício B. Faça pressão de leve para não espanar a ruela. Azeite bem as peças para o encaixe perfeito.
Tudo ia as mil maravilhas, naquela modorria do sexo casamental quando de repente, não mais que de repente, como disse Vinicíus de Morais um dia, o trem explodiu. E a Tininha sentiu as paredes vibrarem, a cama sacudir, a luz tremeluzir e o orgasmo veio.
E não foi um orgasminho mixuruca não! Que ela, como a maioria das mulheres, nunca tinha sentido isso antes, apesar de mentirem para todo mundo.
Foi daqueles da mulher fechar os zoin, agradecer Papaidocéu e depois contar pras amigas com detalhes sórdidos, reais e inventados.
Tudo terminado, o Marcão fumou um cigarrinho do depois, se ajeitou no travesseiro e dormiu, roncando quinem um porco capado.
E a Tininha? Bem, a Tininha ficou ali na penumbra pensando com seus botões . Será que esse gorducho é o homem da minha vida? E o Rodrigo Santoro, como fica? E o Fábio Assunção, cumoéquié?
Manhãzinha foi na banca de jornais e soube do tremor de terra. 5,2 na escala Richter. O sexto maior acontecido no Brasil. Epicentro no Oceano Atlântico com reflexos em toda a orla paulista. Principalmente em São Vicente.
- Só 5,2? – perguntou a si mesma,a mente viajando longe. tirando todos os possíveis méritos do Marcão
Hoje está economizando para se mudar em definitivo para San Francisco, onde o bixo pega de verdade. 7,1. 8,2 e por aí afora. Isso quando o bitelo não vem rasgando folha de zinco trincando prédios.
Por garantia comprou uma cama vibratória em 24 suaves prestações nas Casas Bahia.
Vai que demora muito pra ir pros States?