Coisa Tola

Dois jovens, primeiro encontro.

– O amor é uma coisa tola...

– Por que você diz isso? – diz ela.

– Não sei, achei poético...

– Você é estranho.

(galhos se agitam)

– Está ficando frio ou é impressão minha?

– É. – diz ele.

– É o quê? Frio ou impressão?

– O que você perguntou mesmo?

– Ah, esquece.

(silêncio)

– Está ficando frio... – diz ele.

– Você acha? – diz ela, ironicamente.

– Acho.

– Você não parecia tão sério no MSN...

– Mas eu não sou sério.

– É sim.

– Ok.

(toca um celular)

– Você não vai atender? – diz ela.

– Vou, é que eu adoro essa música.

– Você gosta de Marisa Monte?

– É ela que canta?

– É...

(outra vez silêncio)

– Quer uma coca? – diz ela.

– Quero!

– Onde é que vende?

– Não sei.

(ela balança a cabeça negativamente)

– Sabia que eu tenho uma arma na minha mochila? – diz ele.

– Quê?

– Uma arma, três oitão. – diz ele, friamente.

– Sério?! – diz ela, apavorada.

– Não.

– Ah, seu cachorro!

– Te peguei, hahahahaha!

(um cachorro passa na frente)

– Você gosta de animais?

– Prefiro que fiquem no zoológico.

– Ah.. – diz ele desapontado.

– Por que a pergunta?

– Nem de gatos? – diz ele, ignorando-a.

– Por que? Você gosta?

– Não, é porque nunca vi um gato num zoológico...

(o telefone toca de novo)

– Vê se atende agora – diz ela.

– É a cobrar.

– Quer ligar do meu?

– Não, eu tenho créditos.

(ele disca um número qualquer)

– Ta chamando... – diz ele baixinho.

– Certo...

– Tô aqui na praça da Sé!!! – grita ele e desliga.

(ela sorri)

– Você não tem vergonha de falar nos três segundos?

– Na verdade são dois segundos.

(ele mira profundamente os olhos dela)

– Que foi? – diz ela.

– Você emagreceu?

– Por que? – ela fica toda feliz.

– Porquê no orkut você parece mais gorda.

(ele se aproxima dela)

– Que perfume é esse? – diz ele.

– Sabe que eu nem sei... – ela mente.

– Sabe sim.

– Não, não sei.

– Tem certeza? – insiste ele.

– Você é doido.

(ele se afasta e olha nos olhos verdes dela)

– É cheiroso. – diz ele.

– Obrigada.

– Seus olhos são mais verdes do que eu pensava.

– Obrigada, moço. – diz ela, lisonjeada.

– Você vem sempre aqui?

(ela sorri e vira-se para ele)

– Deus do céu, onde você quer chegar com esse papo?

– No nosso próximo encontro. – diz ele.

– Hum, sei.

– Você se apaixonaria por mim?

– Depende. – diz ela, com borboletas na barriga.

– Depende de quê?

(ela pensa um pouco e o beija)

Daniel Magalhães
Enviado por Daniel Magalhães em 14/04/2008
Reeditado em 29/08/2008
Código do texto: T945524
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