"NOSTRATAMOS"
“Se achega mizifio, que cocê tem pra conta?...
“Onde está meu estetoscópio? Está tudo tão estranho... Onde estou?”
“Num se aveche, aquí é o terrero de Mãe Minininha do Ponto G.”
“Então é mesmo possível aparecer e contatar os vivos?”
“Num tá fazenu? Fala pranós, quem tu é, de onde vem?“
”Meu nome era Miguel, meu apelido era Nostratamos.”
“E que cocê fazia mizifio?”
“Fui médico do SUS, atendia no Brás, mas fui atropelado por um caminhão de gás. Tive um parente lá pros idos de 1500, que foi chique!“
”Cumé quele chamava mesmo, mizifio?”
“Miguel, como eu e era de Notre Dame. Curou muitas pestes e escreveu uns versos, as Centúrias, que previam muita coisa...”
“Falavam do Serrote?”
“Nossa! O Serrote ainda reina?”
“Ele tá cuidano de u, istado importanti".
“Eles votaram nêle?”
“U marmota, ganha caquela cara feia...”
“Por que você me trouxe aqui? Para que me chamou?”
“Mãe Minininha, qué sabe, se dá procê sabe do seu tio, Serrote vai sê prisidente?”
“Mas como faço pra saber isto dele?”
“Cê num sabe mizifio, mais você era ele amanhã...”
“Como?...”
“Cê num percebeu, o mesmo nomi e o mesmo trabaio! Cês naceram do mesmo ispritu.”
“Mas ele era famoso, eu não passei do SUS!”
“É que pra escrevê as puisia, ele andô tomando uns ribite e teve qui vortá nocê, pra se ispurga!”
“Começo a ver mais claro. É por isto que sem nunca estar na França, vejo cenas, como certos clarões, que me mostram um povo pobre, sujo, passando em frente da catedral, pedindo esmolas, bebendo vinho...”
“Tá chegando lá mizifio, vai fundo!”
Silêncio demorado.
“Mizifio, tá aí, num largô nois?”
“Estou aqui! Consegui voltar lá, reli tudo com os olhos da alma e não lembro de ter escrito nada sobre o cara de vampiro. Pensei que pudesse ser o terceiro anticristo, mas não parecia com ele... Estou em dúvida!...
“Mais mizifio, num dá pra perguntá pro Malaquias, ou quarqué outro daí se o Serrote vai sê prisidente?”
“Posso ver, dá um tempo...”
“Zambi, Zambi, é urgente!”
Silêncio médio.
“Achei um tal de Fritz, é isto, é o Dr. Fritz... Me garantiu que não vai acontecer. Neca de presidência para o Serrote!”
“Viva Zambi! Tamo sarvo! O mundo num vai acabá já! Vorta em paiz mizifio...”
Mãe Minininha, abre uma garrafa de pinga, dá um gole e respira aliviada: “Chegamo perto! Robaieira nas votação, nois guenta; isto é suportavi. Ascurta nos telefoni também!
Gora, Trem feio é funcho mofadu: ninhum homi guenta!"
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