Naná que era mulher de verdade

- Ela é muito da invocada, isso sim! – sentenciou o Ditinho quando o assunto recaiu sobre a Naná – E falo isso porque gosto do Agenor. Fosse outro o xingamento era bem mais pesado!

E estava coberto de razão.

Não que o Ge pudesse ser definido como o protótipo do marido perfeito. Isso não! Tomava seus birinaites, gostava dum baralhinho com os amigos e até arriscava uma zoaida mais demorada se alguma gostosa passasse por perto.Longe dos olhos da Nana, é claro, que não era um covardão de categoria mas prezava – e muito – os dentes da frente.

Fora isso, tinha defeitos não.Nunca ninguém tinha ouvido falar de algum extra fora de casa ou algum enrosca-enrosca envolvendo rabo-de-saia. Ou era um tremendo de um sacana fazendo bem escondido ou um santo de carteirinha. Mais pra segunda hipótese.

Também não era aquele tipo de sujeito que se podia afirmar de olhos fechados, “gente finíssima”. Ruim de papo, contava umas piadas que só ele achava graça, cometia algumas indiscrições fora de hora, não entendia nadica de nada de política, informática e otras cositas, que os “da hora” destrinchavam de cor e salteado. Chato, mas um bom sujeito.

- O Ge é o tipo desnarigado: não fede nem cheira! – definiu o Ditinho do alto de sua sabedoria.

Mesmo assim não merecia passar o que passava nas garras da Nana. Que o epíteto “invocada”, dado pelo Ditinho, era tipo assim.. . comparar a beleza e a sensualidade da Rogéria com as qualidades da, digamos , Mel Lisboa.

A Nana na verdade,era uma autêntica hiena com TPM!

Pra se ter uma idéia o Agenor era obrigado a fumar fora de casa.

Tá bem que um sujeito dar seus tragos, soltar sua baforadas fedorentas dentro do quarto ou na casa fechada por causa da chuva, não é certo não! Que ninguém é obrigado a engolir fumaça de segunda mão. Mas, de porta escancarada? Ventilador ligado? Assistindo um Coringão versus Palmeiras? E ter de ir pra área de serviço ou varanda porque a Dona Brabeza não quer, perdendo minutos preciosos do jogaço ou aquele golzinho roubado que a teve não repete? Desculpe, mas aí já é sacanagem!

Pois não é o Agenor fazia desse jeito só pra não deixar a mulher enfezada? E vez em quando ainda ouvia bronca se o vento viesse de fora pra dentro?

O Ditinho tinha cansado de dar conselhos.

- Deixa montar não, meu compadre! – e completara:- Depois o trem se acostuma e não há quem dá jeito na bagaça!

O problema é que ele não tinha condições morais nem psicológicas para julgar ninguém. Fosse outro. Menos bebum. Menos biscateiro. Menos sacana. Aí sim.

Mas o Ditinho?

Dez anos de casado, quatro casos conhecidos, num deles um moleque de seis anos comendo pensão todo santo mês. Fora os de relance, que mulher desse mole, falou que perdia, né? E não tava nem aí se a cara metade descobrisse ou não.

- Enquanto a Dete se preocupa com minhas farras não tem tempo de pensar besterage! – era o que sempre afirmava convicto, quase ninguém compartilhando da lógica perversa.

Mas, voltando ao Agenor, o pau comeu, mas comeu de vez mesmo, coisa assim de aparecer no noticiário das sete ou no Grande Matutino RI da rádio Ibitinga, foi quando a Naná, querendo descobrir alguma coisa sobre Lorena, cidade onde nascera, cismou de procurar no Google.

Tranquilamente digitou L e, Rapais! O que apareceu na janelinha de busca de Lolitas, Loirinhasgostosas, Loiratesuda e por aí afora, não tava no gibi!

Porque o Agenor, morrendo de medo da fera que tinha em casa e que de bobo só tinha o jeitão de andar, para não ficar gravado no histórico do computador, entrava sempre por ali. Pela busca do Google.

Infalível né? Não fosse a fuçassão da mulher e sua curiosidade sobre a cidade natal.

Espumando quinem uma vaca brava digitou T, até se esquecendo da cidade de origem e porque queria saber alguma coisa sobre ela.

Mais provas do crime do pobre do Ge!

Um festival de Teens, Tesudinhas, Talitasbundudas, Tesãodemorena, Tarasdemulher.

Quando o coitado chegou do serviço, mocorongo como ele só, puto da vida com o chefe de setor que tinha atazanado a vida dele a tarde toda por causa dumas ziquiziras sem importância nenhuma, doidin pra tomar uma cerveja gelada e fumar um cigarrinho na área do fundo, quem o esperava, língua afiada e com as garras de fora, pronta para o bote fatal?

Quem? Quem?

Foi um festival de PQPs, FDPs, tarado sem vergonha, verme nojento e adjacências. A Naná fazendo questão nenhuma se os vizinhos ouviam ou não.

Coitado! Bem que tentou argumentar que era melhor ver mulher na Net que na vida real: que todos os amigos viam também: que pior seria se estivesse vendo homem pelado, mas não colou!

- Tipo da mulher que – lá veio o Ditinho dinovo num momento de inspiração profunda – se o marido se mata ou mata ela, a gente até entende!

Nickinho
Enviado por Nickinho em 11/04/2008
Código do texto: T941807