Acima de qualquer suspeita

Seu Augusto, muito letrado, entrara menino ainda para um grande jornal do RJ, e passando por vários cargos, chegou a Revisor. Ficou viúvo e com os filhos já casados, resolveu morar sozinho, pulando de galho em galho, ora em quartos de casas de família, pois segundo ele, era ideal trocar de bairro de vez em quando. Hospedava-se também em fazendas, pousadas e sítios. Num sítio onde fora passar uma temporada, logo ganhou a confiança, o respeito e a admiração de todos. Sempre solícito, ajudava as crianças nos deveres escolares, dava aulas para adultos, etc. Queriam até que se candidatasse a Vereador naquela cidadezinha. Não aceitou. Mas uma coisa o incomodava: um imenso pé de chuchu. Já não aguentava mais. Era ensopado, à milanesa, à doré, purê, doce, geléia, tudo de chuchu. Achou que tinha de dar uma solução para aquela dieta. E deu. De madrugada cortou bem rente ao chão o seu grande inimigo. Após uns dois dias, com o murchar das folhas, o crime foi descoberto.

- Só pode ter ter sido Toinho, aquele invejoso.

- Ou Zé Muriçoca, que sabemos que não gosta da gente.

- Ou então o Raimundão, que sempre tenta mas não consegue namorar moça nenhuma de nossa família.

- Enfim, é um tremendo safado, o sr. não acha, seu Augusto?

-Claro, claro.

Passada a temporada, seu Augusto voltou para o Rio.

Só acho que deveria ter aceitado a indicação. Seria um ótimo Vereador.

mejt
Enviado por mejt em 09/04/2008
Reeditado em 07/11/2012
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